Chegou ao Rio com o objectivo de ficar entre os oito primeiros no triatlo, mas quando iniciou o segmento final de corrida, após a natação e o ciclismo, estava num distante 17.º lugar, a quase minuto e meio dos da frente. Junto ao calçadão de Copacabana, João Pereira não parou para ver as vistas. Cerrou os dentes e correu. Mais depressa do que os 12 adversários que conseguiu ultrapassar, uns a seguir aos outros, em 10 quilómetros. “Na recta da meta ainda vi o bronze”, confessou, no final, mas satisfeito com o 5.º posto, o melhor resultado de sempre para um português no triatlo masculino em Jogos Olímpicos.
“Para chegar às medalhas era preciso ter melhores condições de trabalho e melhor estrutura de apoio”, disse o triatleta de 28 anos, aparentemente nada afectado por ter ficado a apenas 9 segundos de um lugar no pódium (e a 51 segundos do vencedor, o britânico Alistair Brownlee). A prova mostrou-lhe que precisa de evoluir na parte da natação, mas também que é um dos atletas mais fortes do mundo no segmento final da corrida, onde fez o segundo melhor tempo entre todos os 50 concorrentes, só superado – por apenas 4 décimos! – pelo sul-africano Richard Murray, que terminou mesmo à sua frente.
“Procurei dar tudo por Portugal, pelo triatlo e pelos portugueses”, sublinhou. “Lutar pelas medalhas é sempre complicado com as condições que temos e frente a atletas de grandes nações. Mas daqui a quatro anos acho que posso, no mínimo, igualar este resultado, com bem menos pressão e com bem mais confiança”.
O que falta então para lutar pelas medalhas? João Pereira começa a resposta com o seu exemplo pessoal: “Eu estou no Centro de Alto Rendimento do Jamor desde que entrei para o triatlo, há 10 anos. E há 10 anos que aquilo está quase igual como estava há 30 anos. Não se fez nada.”
O que falta, então? João Pereira fala das novas tecnologias de recuperação e de treino de que beneficiam os grandes atletas estrangeiros e que ele não encontra no Jamor. E dá exemplos: “Há muitas técnicas novas de tratamento como os banhos de gelo – que agora já não são de gelo, mas sim de azoto – ou as passadeiras anti-gravitacionais que nos permitem correr mais e melhor quilómetros.”
“Sendo o Jamor um Centro Nacional de Treino, ainda para mais situado na capital, Lisboa, penso que deveria ter muito melhores condições”, diz. “Porque se querem medalhas é preciso criar condições para isso, porque nós já fazemos o nosso melhor a cada dia, com aquilo que temos.”
E sem se deter conta o exercício de imaginação que costumava propor às pessoas que, antes dos Jogos, lhe perguntavam o que era preciso fazer para conseguir ganhar medalhas nos Jogos Olímpicos. “É como montar uma empresa e tentar fazer dela uma das três melhores do mundo. Força, querem tentar? Mas não vai ser fácil”.
“Mas é precisamente isso que eu e o meu treinador, Lino Barruncho, fazemos a cada dia de treino”, afirma.
O triatlo do Rio 2016 foi ganho pelo britânico Alistair Brownlee, que revalidou o titulo conquistado em Londres (o primeiro triatleta da história a alcançar essa proeza), logo seguido pelo seu irmão Jonathan (prata) e do sul-africano Henry Schoeman. Os outros dois portugueses em prova classificaram-se em lugares modestos: João Silva em 35.º e Miguel Arraiolos em 44.º lugar.