O momento mais desejado por todos os atletas que participam nos Jogos Olímpicos já foi concretizado, de forma singular, pelos jogadores da selecção portuguesa de futebol presente no Rio 2016: ouvir tocar o hino nacional no Estádio Olímpico. Mas com uma diferença que… faz toda a diferença: em vez de subir ao mastro principal, a bandeira de Portugal ficou, desta vez, junto ao relvado, segurada por quatro voluntários.
É uma tradição do futebol que, pelos vistos, foi adoptada também pelo Comité Olímpico Internacional: tocar o hino das equipas antes do início do jogo. Na maior parte dos outros desportos do programa olímpico, os atletas só têm uma maneira de ouvir o hino do seu país: ganhar a sua prova ou torneio.
Não é assim no futebol e isso agradeceram os muitos espectadores presentes no Estádio Olímpico, a que os cariocas chamam Engenhão (devido à sua localização no bairro do Engenho de Dentro): “A Portuguesa” foi cantada a plenos pulmões e muito entusiasmo por milhares de descendentes de portugueses radicados no Brasil, que fizeram questão de estar presentes na estreia competitiva das cores nacionais nestes Jogos Olímpicos – na véspera da cerimónia de abertura, no Maracanã.
O entusiasmo prolongou-se durante os primeiros minutos do Portugal-Argentina. Com os comandados de Rui Jorge a entrarem com muita garra e personalidade, trocando a bola com ordem e critério, o público depressa começou a gritar “olés” e a fazer a célebre “hola” percorrer as bancadas.
Se o seleccionador Rui Jorge teve muitas dificuldades para conseguir reunir os 18 jogadores que trouxe ao Brasil, a verdade é que nada disso se notou na equipa com que Portugal iniciou o encontro. Com Varela na baliza, uma defesa composta por Esgaio, Tobias Figueiredo, Edgar Ié e Fernando, um meio-campo com Tomás Podstawski, André Martins, Sérgio Oliveira e Bruno Fernandes, e Salvador Agra e Gonçalo Paciência no ataque, Portugal mostrou-se sempre uma equipa com personalidade, que soube manter um estilo de jogo coerente e que actuou sempre com muita solidariedade entre todos os jogadores. Por isso, ninguém deve estranhar que a maioria dos brasileiros presentes no estádio, que nem sequer desconfiam das dificuldades que Rui Jorge teve para formar esta selecção, tivesse pensado que estes jogadores actuavam juntos já há muito tempo.
A verdade é que se o trabalho de Rui Jorge tem sido elogiado entre os responsáveis olímpicos portugueses – a sua decisão de alojar a equipa de futebol na Aldeia Olímpica juntamente com os atletas das outras modalidades foi muito apreciada logo desde o início – depois desta estreia merece o reconhecimento de todos os adeptos do desporto. O seleccionador soube criar um conjunto que actua como uma verdadeira equipa, com empenho e espírito de superação. E essa foi a principal diferença face a uma Argentina formada com as mesmas dificuldades, mas onde os jogadores optaram sempre mais pela resolução dos problemas pelo talento individual em vez de usarem a força colectiva.
O espírito da equipa portuguesa ficou ainda demonstrado na forma como os três substitutos – Pité, Tiago Silva e Tiago Ilori – entraram no ritmo do jogo, como se todos fossem velhos conhecidos.
Para a história ficaram dois golos com remates de fora da área. O primeiro por Gonçalo Paciência (aos 66 minutos) e o segundo por Pité, o ultimo elemento a ser integrado na selecção, neste caso ajudado por um “frango” do guarda-redes argentino.
Nos últimos minutos, voltaram a ouvir-se “olés”, mas, apesar da vitória, não voltou a ser tocado o hino. Mas até que era merecido.