Fugas de gás na aldeia olímpica, águas poluídas onde se vão realizar provas, suspeitos de terrorismo detidos. Estes são apenas alguns dos problemas com que a organização se tem deparado e que ameaçam transformar os Jogos do Rio de Janeiro num pesadelo.
Aldeia olímpica
Com a cerimónia de abertura já no horizonte (sexta-feira da próxima semana), nos últimos dias têm surgido várias reclamações sobre o alojamento na aldeia olímpica, que começou esta semana a receber os atletas. Retretes entupidas, fugas na canalização, má iluminação dos edifícios, fios elétricos expostos, pequenas fugas de gás, falhas de energia e sujidade estão entre as queixas das delegações sobre o complexo de 31 edifícios na Barra da Tijuca, que servirá de “casa” de 18 mil atletas e treinadores nas próximas semanas.
A comitiva australiana foi das mais críticas e recusou instalar-se na aldeia olímpica enquanto os problemas detetados não estivessem resolvidos. Kitty Chiller, a chefe da missão, deu como exemplo ao Global Times o facto de numa visita preparatória ter havido “água a correr pelas paredes” quando puxaram autoclismos em simultâneo. A responsável australiana acrescentou que nunca tinha visto condições tão más – esteve em Sydney 2000, Atenas 2004, Pequim 2008 e Londres 2012 -, mas ontem já houve luz verde para os atletas se mudarem para a aldeia. As equipas de hóquei em campo, tiro com arco e ginástica foram as primeiras a chegar. “Quase sinto vontade de meter um canguru à porta do edifício deles só para se sentirem mais em casa”, atirou o prefeito do Rio de Janeiro, ao que os australianos responderam: “Não precisamos de cangurus, precisamos de canalizadores.”
Já a delegação da Suécia abandonou ontem as instalações por 48 horas para dar tempo à organização de corrigir o que está mal. Até amanhã, os atletas vão ficar alojados num hotel com as despesas suportadas pelo seu comité olímpico.
Criminalidade
Um assalto à atleta paralímpica australiana Liesl Tesch, em junho, e mais recentemente uma burla de dois agentes da autoridade ao praticante de jiu-jitsu neozelandês Jason Lee, levantaram preocupações a nível da criminalidade sobre os atletas. Radicado no Brasil, Lee foi assaltado por dois homens “com a farda da polícia militar” que, segundo relata, o fizeram levantar dois mil reais (cerca de 550 euros). Se não o fizesse, disseram-lhe, seria detido por conduzir sem se fazer acompanhar de um passaporte, o que nem sequer é crime no Brasil. Os agentes obrigaram-no a alugar um carro com vidros fumados para se desclocarem sem serem vistos enquanto procuravam por uma caixa multibanco.
Outra notícia macabra, que deixa os atletas mais receosos, fala de partes do corpo humano a darem à costa em Copacabana, onde estará a arena da competição de voleibol de praia.
Saúde
Outro dos receios dos atletas diz respeito à sua saúde. Um dos principais medos resulta da recente epidemia do vírus zika, mas as autoridades de saúde brasileiras garantem que, entre fevereiro e maio deste ano, os casos diminuíram 87%.
Nas últimas semanas, surgiu outra preocupação: a contaminação de dois cavalos com mormo, uma doença equestre mortal, e que também pode afetar humanos, que se considerava erradicada. Os dois cavalos foram abatidos no Complexo Militar Deodoro, onde vão realizar-se as provas de equitação dos Jogos Olímpicos, o que deixou as comitivas em alerta, apesar das garantias da organização de que os cavalos olímpicos não se vão misturar com os que vivem no complexo.
A saúde dos atletas que vão utilizar a Baía de Guanabara encontra-se igualmente em risco por causa da poluição. Para Guanabara estão marcadas provas de vela e também o setor de natação no triatlo. O governo brasileiro tinha prometido limpar a baía, mas os níveis de poluição continuam elevados e perigosos para qualquer prática de desporto na água. Luiz Goldfeld, que mora no Rio de Janeiro, declarou ao USA Today que ainda se veem peixes mortos a flutuar e que o mau-cheiro é frequente durante o dia.
Terrorismo
Os atentados que estão a alastrar um pouco por toda a Europa também geram preocupação no Brasil. Na semana passada, foram detidos onze suspeitos de estarem a preparar ataques terroristas durante os Jogos do Rio, em nome, alegadamente, do Estado Islâmico. A polícia confirmou que os detidos são simpatizantes do Daesh, mas esclareceu que não receberam qualquer treino.
Em conferência de imprensa, o ministro da defesa brasileiro Raul Jungmann assegurou que os Jogos Olímpicos vão ter todas as condições de segurança e que o executivo brasileiro está disposto a satisfazer todas as exigências do Comité Olímpico Internacional.
Fraca procura de bilhetes
A procura de bilhetes para a maior competição desportiva do mundo, a realizar de 5 a 21 de Agosto, tem sido baixa. O custo dos bilhetes e a conjuntura política, económica e social que se vive no Brasil, são as causas mais apontadas. Os brasileiros também não têm aderido porque, segundo explica John Martin, da Great Atlantic Sports, empresa que organiza pacotes de viagem para grandes eventos desportivos em todo o mundo, não têm dinheiro “para comprar bilhetes para ver estas coisas”. Martin considera que o “Rio de Janeiro não está preparado para os Jogos Olímpicos”, nem os estrangeiros estão interessados em viajar para um país com o vírus Zika, uma elevada taxa de criminalidade e um governo em queda, acusado de corrupção.
Ainda assim, os primeiros Jogos Olímpicos realizados na América do Sul vão contar com um número recorde de nações (207), tendo como estreantes o Kosovo e o Sudão do Sul. No total, serão 306 provas para atribuição de medalhas, mais do que qualquer outra edição.