Desde há um par de meses, os treinos e a vida de Nélson Évora têm sido “vigiados” de muito perto por uma equipa de filmagens. Tão de perto que, asseguram, ao fim de alguns dias o atleta até deixou de sentir a presença das câmaras e dos “intrusos”, que o têm visto acordar, treinar e competir, além de terem vasculhado todos os arquivos em busca de imagens e filmes da sua infância e juventude.
“Queremos mostrar quem é mesmo o Nélson Évora, como funciona a sua cabeça na intimidade, nos bons e nos maus momentos, mostrar o seu espírito de lutador, mas também o lado sensível e quase comovente “, explica Ruben Alves, realizador da comédia de êxito “A Gaiola Dourada”, e que agora se tem dedicado à produção de documentários sobre portugueses com uma história universal, com os sócios Duarte Neves e Cristóvão Fonseca, com quem fundou a Imagina Produções. Depois de um documentário sobre a vida e a obra de Amadeo de Souza-Cardoso debruçaram-se agora sobre Nélson Évora, o campeão olímpico. Para a realização, convidaram João Pedro Plácido, autor de “Volta à Terra”, um documentário que passou no circuito comercial e que esteve cinco semanas em cartaz, em Paris. E o entusiasmo da equipa é enorme. “É uma sensação muito forte, estamos mesmo dentro da emoção dele”, diz Duarte Neves.
“Apaixonei-me pela personagem”, confessa Ruben Alves. “O que mais impressiona é a sua persistência, o facto de ele nunca desistir de nada. Numa época em que tudo parece ser fácil, em que às vezes só importa o dinheiro, é relevante mostrar às novas gerações uma figura como o Nélson Évora, em que o seu êxito se baseia em valores como o esforço e o trabalho.”
Ao longo dos últimos dois meses, a equipa de filmagens acompanhou Nelson Évora para todo o lado e de uma forma tão imersa que, a partir de certo ponto, “ele deixou de sentir a presença da câmara e passou a comportar-se como se ela não estivesse lá”, explica o produtor. Foi através desse ponto privilegiado de visão que, aos poucos, os cineastas foram entrando nas emoções de Nélson Évora: o seu sofrimento durante os treinos mais duros, as longas sessões de fisioterapia a tentar recuperar o corpo, a forma como ele se recolhe para se automotivar, a relação especial que mantém com o seu treinador João Ganço, a sua relação com a família.
“Pelas imagens que tenho visto, sinto que vai ser um filme muito forte. Finalmente, vamos poder mostrar como funciona a cabeça de um grande campeão. Toda a sua força, o trabalho, mas também a emoção”, diz Ruben Alves, que confessa ter-se rendido àquela que define como “uma personagem épica”.
“Na altura dos Jogos Olímpicos, em 2008, vibrei com a vitória dele no triplo salto, mas não sabia nada a seu respeito. Só quando nos conhecemos é que percebi a sua história. Ouvi-o contar as muitas lesões que sofreu, a forma como tanta gente o considerou acabado. E como ele nunca desistiu, como nunca perdeu a sua enorme força de vontade. É este o tipo de histórias que me interessa, histórias com valor universal”, conta Ruben Alves.
A equipa dirigida pelo realizador João Pedro Plácido vai acompanhar Nélson Évora no Rio de Janeiro até à final do triplo salto, marcada para dia 16 de agosto. Depois, iniciar-se-à um autêntico contra-relógio para completar o filme, que será exibido, em duas partes, na SIC, nos dias 19 e 20 de agosto. Ou seja: apenas três dias depois de terem terminado as filmagens.