Julgamento popular e território aristocrático? Eis uma relação fascinante, mesmo quando a História alinhavou o mito de que os brioches e o pão não se misturam bem. Mas esta é uma narrativa reescrita por Joana Vasconcelos: poucos artistas contemporâneos poderão orgulhar-se de tão regularmente habitar esse espaço que cruza arte e tradições artesanais – ferramentas democratizadoras – com arquiteturas monumentais a que normalmente apenas uma minoria tem acesso.
A criadora portuguesa tem somado exposições em moradas de sangue azul (ver caixa Marcos Dourados), a que junta agora o Palácio de Liria, em Madrid. Dois leões rendados em pose e uma Valquíria acolhem aí condignamente os visitantes até 31 de julho. Valkyrie Thyra (2023), criatura escura pontuada por luzes LED e tecidos das recentes coleções têxteis da Dior (a marca francesa de alta-costura para quem a artista concebeu também Valquíria Miss Dior), paira nas escadarias desta bela construção neoclássica do século XVIII (a que o Turismo de Madrid puxa o merecido lustro com a descrição “o irmão pequeno do Palácio Real”), que assim, com a exposição Flamboyant, abre portas a mais um momento do programa de arte contemporânea da fundação que lhe está associada, quando esta cumpre o seu 50º aniversário.

La Théière, uma estruturade ferro ornamentadaem forma de chaleira que é uma das obras novas criadas por Joana Vasconcelos especificamente para os espaços do Palácio de Liria
Guarda impressionante Matilha (2005), peça adquirida agora pela Fundação Helga de Alvear
Sala da música Piano Dentelle #3, uma das 50 obras apresentadas em Flamboyant