Pedro Cabrita Reis vai doar os “milhares de documentos” que constituem o seu arquivo documental à Fundação de Serralves, anunciou a instituição portuense. Este acervo abrangente, reunido ao longo de 50 anos de prática artística, inclui cartas pessoais, fotografias, esboços, catálogos, registos rigorosos da correspondência que acompanhou a produção de exposições, e ainda convites, cadernos de notas, cartazes e outros documentos. Classificando-o como um acervo de “enorme importância para a história da arte contemporânea”, a Fundação de Serralves refere que este será objeto de “tratamento, estudo e disseminação através de diversas iniciativas, como exposições, conferências, apresentações e atividades educativas, apresentadas tanto em Serralves como noutras instituições nacionais e internacionais, garantindo o seu acesso a um público muito alargado”.
“Não há outra instituição com a importância histórica e o impacto na vida portuguesa, no domínio das artes plásticas, como Serralves”, refere Pedro Cabrita Reis no comunicado agora divulgado. Acrescenta: “É o foco de onde nasce uma energia, um pensamento e um cuidado com uma visão da História de Portugal, através da história dos seus artistas e dos seus criadores.”
O artista plástico, nome maior da arte portuguesa com forte presença e prestígio internacionais, tem, sublinhe-se, uma longa relação com Serralves. Foi o autor de uma das primeiras exposições do então recém-inaugurado Museu, em 1999, e aí regressou, duas décadas passadas, para apresentar A Roving Gaze, exposição especificamente concebida para os espaços e salas desenhados pelo arquiteto Siza Vieira. As suas obras estão igualmente representadas nas mais de 5600 peças da Coleção de Serralves, desde 1989, ano de criação da Fundação – um espólio agora reforçado com a instalação em permanência da obra Ponte no lago de Serralves.
Nas palavras da cessante Presidente do conselho de Administração de Serralves, Ana Pinho, “a doação do Arquivo Pedro Cabrita Reis é um marco de enorme relevância para Serralves, instituição que agora acolhe os arquivos de várias das maiores personalidades da cultura contemporânea como Álvaro Siza, Manoel de Oliveira e Julião Sarmento, entre outros. Este arquivo é um património de grande valor para contar a história das artes dentro e fora de Portugal, e Serralves ficará responsável pelo seu estudo, preservação e divulgação aos públicos mais diversos, levando-o até às novas gerações.” Ana Pinho, que terminado agora o seu mandato, sucederá a Rui Vilar na presidência do conselho de fundadores de Serralves, declara ainda: “Acolher este grande acervo é cumprir a missão de Serralves, promovendo de forma cada vez mais empenhada a educação e a sensibilização para a arte contemporânea.”
O arquivo documental de Pedro Cabrita Reis junta-se ao conjunto de arquivos de enorme relevância que têm sido acolhidos na instituição: além dos já citados Álvaro Siza, Manoel de Oliveira e Julião Sarmento, também os arquivos Teresa Siza, Álvaro Siza/Carlos Castanheira, Atelier Real/ João Fiadeiro, Vera Mantero ou Fernando Guerra.
Pedro Cabrita Reis vendeu ainda a sua coleção de arte, um conjunto composto por 388 obras de 74 artistas portugueses, à Fundação EDP, em 2016. E este ano, entre maio e julho, apresentou a monumental exposição Atelier nos Pavilhões da Mitra, um dos acontecimentos do ano nas artes plásticas, que permitiu uma visão de conjunto sobre a sua obra e práticas de trabalho. Mais um sinal dos balanços, de que o artista plástico referia em entrevista à Visão, há um ano.