Nasceu a bordo de um navio chamado Pátria, entre Portugal e Angola, em 1948, mas na certidão de nascimento estava uma terra beirã de nome poético: Vila Franca das Naves. As músicas de Fausto sempre refletiram a relação especial que o artista manteve com o mar, o continente africano, as tradições musicais portuguesas. Assumia-se como um criador lento e quem com ele trabalhou sabia do seu perfeccionismo. Numa carreira de mais de cinco décadas, gravou 12 álbuns. Um deles, marca um antes e um depois na sua obra e tornou-se uma referência da música popular portuguesa: Por Este Rio Acima, lançado em 1982, primeiro tomo de uma trilogia centrada na época das Descobertas, que continuaria com Crónicas da Terra Ardente (1994) e Em Busca das Montanhas Azuis (o seu derradeiro disco, lançado em 2011).
O desaparecimento de uma das grandes referências musicais do País está a emocionar colegas e amigos – a notícia foi confirmada esta manhã pela Antena 1, que ouviu alguns dos seus companheiros mais próximos – e leva-nos recordar as canções mais marcantes do autor e compositor que chegou a Lisboa, vindo do Huambo, aos 20 anos para estudar Ciências Políticas e Sociais: Se Tu Fores Ver o Mar, Navegar, Navegar, Foi Por Ela, O Barco Vai de Saída, Lembra-me um Sonho Lindo, entre muitas outras. Fausto, na sua discrição (não gostava de dar entrevistas e de exposição mediática) e integridade deixa um legado marcado pela reflexão social e política e por um extraordinário trabalho de trazer tradições para a contemporaneidade da música popular portuguesa.
O velório do músico acontece esta terça-feira, 2, na Voz do Operário, em Lisboa, entre as 18h e as 22h. O funeral, no dia seguinte, é reservado à família.