As obras, que não são exibidas ao público, em conjunto, há quase três décadas, serão apresentadas na exposição “Sequeira: os estudos finais”, até 26 de maio, no âmbito de uma iniciativa integrada no Dia do Amigo, promovida pelo Grupo dos Amigos do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), indicou a entidade, em comunicado.
Os quatro estudos, que ficarão patentes na Sala do Teto Pintado do Museu, foram destinados às pinturas finais que Domingos Sequeira realizou em Roma, entre 1827 e 1833, ano em que deixou de trabalhar, e não são exibidos ao público, em conjunto, desde 1997, segundo o MNAA, que possui mais de 750 desenhos do artista no seu acervo.
Projetados em grandes formatos, à escala das pinturas, revelam que o pintor desenvolveu os quatro temas fundamentais do Cristianismo: a Adoração dos Magos, a Descida da Cruz, a Ascensão e o Juízo Final, cada qual imaginado como uma grande produção, num espaço amplo e envolvendo um grande número de figuras.
“Primeira etapa do processo de idealização das pinturas, nestes estudos, Sequeira mostrou a enorme mestria de que era capaz como desenhador. Evoca as formas e os volumes, modelados através do contraste do claro-escuro. E, no limite da desmaterialização das figuras que se encontram já apontadas, conduz-nos, em cada uma das composições, à descoberta das capacidades emotivas da luz, de grande eficácia expressiva e dramática”, descreve o museu na nota de imprensa sobre os desenhos.
Devido ao seu talento, o pintor português conseguiu proteção aristocrática e uma bolsa para se aperfeiçoar em Roma, onde privou com vários mestres e conquistou diversos prémios académicos. Viria a morrer na capital italiana em 1837.
“Dos desenhos resultam quatro visões que são também as reflexões do artista, sobre a tradição da arte europeia e os caminhos que defendia para a arte do seu tempo”, realça ainda o MNAA sobre as obras classificadas como bens de interesse nacional.
Em 2015-2016, através de uma campanha pública de angariação de fundos, o MNAA adquiriu a pintura “Adoração dos Magos” por 600 mil euros, e a Fundação Livraria Lello comprou a tela “Descida da Cruz” em março deste ano, por 1,2 milhões de euros, depois de o Estado português ter falhado a aquisição ao proprietário privado.
Através de um acordo assinado entre a fundação e o Ministério da Cultura, na altura, o quadro irá ser estudado e exibido em museus nacionais.
O caso gerou polémica após ter sido noticiada a autorização oficial da sua saída do país, contrariando pareceres de especialistas no sentido da classificação como bem de interesse nacional e aquisição que o Estado tentou ainda negociar até aos 850 mil euros, sem êxito.
Quando da apresentação, em março, no Palácio da Ajuda, da obra “Descida da Cruz”, a Museus e Monumentos de Portugal indicou que continuavam em curso as negociações para aquisição das pinturas “Ascensão”, e “Juízo Final”, ambas inacabadas, nas mãos de privados.
Criado em 1884, o MNAA alberga a mais relevante coleção pública do país – desde pintura, escultura, artes decorativas portuguesas, europeias e da Expansão — da Idade Média até ao século XIX, incluindo o maior número de obras classificadas como “tesouros nacionais”, assim como a maior coleção de mobiliário português.
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