O nome da mostra – “Quem conta um conto acrescenta um ponto” – que abriu ao público no dia 27 de outubro, no Museu de Serralves, parte do ditado popular “que se utiliza para indicar que cada pessoa relata um mesmo acontecimento ou facto acrescentando pormenores da sua autoria”, uma vez que “contar contos é uma das expressões que melhor definem o trabalho da artista Paula Rego”, explica o roteiro da exposição.
Com esta exposição, que tem curadoria de Isabel Braga e inauguração oficial marcada para terça-feira, Serralves pretende homenagear Paula Rego no ano do seu desaparecimento, sendo que a exposição vai estar patente até dia 30 de abril de 2023.
Segundo Serralves, “Quem conta um conto acrescenta um ponto” ilustra a diversidade do trabalho de Paula Rego através de várias gravuras, pinturas e desenhos, mostrando obras como um conjunto de gravuras em torno do tema “Menina e cão” (1987) e, relacionadas com a aquela série, as obras “Histórias de embalar”, “Viajantes”.
A exposição retrata também o universo dos contos infantis explorado por Paula Rego com “Children and their Stories” (1989) e a influência na obra da artista portuguesa de Jean Dubuffet, patente nas pinturas “Corredor” (1975) e “A grande seca” (1976), “trabalhos marcados por uma violenta abstração surrealizante, enfatizada pela fragmentação e distorção das formas, e em que a pintura atua como um elo de ligação ou de ocultação dos elementos colados, conferindo ambiguidade às imagens representadas”.
“Girl with Pig and Weeping Dog” (1984) e “Homenagem a Dubuffet” (1985) são mais duas das obras expostas, nas quais a artista “abandona a colagem e passa a dar primazia ao desenho e à pintura em tinta acrílica e guache, criando composições coloridas e vertiginosas, habitadas por figuras humanas, animais e vegetais, ora isoladas, ora em fervilhantes e estranhas interações”.
A série de pinturas “The Vivian Girls” pode também ser apreciada assim como as pinturas “On the Balcony”, “História II” e “História III” (todas de 1986), “habitadas por personagens humanas e animais colocadas em estranhas situações e através das quais é abordado um vasto leque de emoções e inter-relações”.
Da década de 1990, “Quem conta um conto” mostra “Watcher” (1994) e “Cinta” (1995) e, já dos anos 2000, o desenho “O vestido cor de salmão” (2001), no qual Paula Rego aborda o papel da mulher na esfera mais íntima.
Pinturas a pastel como “A cela” (1997) e de “The Sweeper (2002) vão igualmente poder ser vistas, assim como o políptico “Possessão I-VII” (2004), composto por sete pinturas de uma mulher a contorcer-se num divã.
Além desta exposição em Serralves, a obra de Paula Rego pode ser visitada em mais três mostras, já inauguradas depois da morte da artista em junho: uma no centro de arte Kestner Gesellschaft, em Hanover, Alemanha, e duas em Cascais.
Paula Rego, uma das mais aclamadas e premiadas artistas portuguesas a nível internacional, morreu a 08 de junho aos 87 anos, em Londres, onde estudou nos anos 1960 e se radicou definitivamente a partir da década de 1970.
A artista, que deu corpo a uma das mais visitadas exposições de Serralves nos primeiros anos deste século (a antológica de 2004), foi ainda alvo de uma mostra em 2019, desta feita na Casa de Serralves, intitulada “O Grito da Imaginação”, que reuniu mais de três dezenas de obras da sua autoria, a maioria das quais pertencentes à coleção de Serralves.
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