Chega antes da hora marcada aos jardins do Palácio de Cristal, palco habitual dos passeios guiados que, há muito, Germano Silva faz da cidade. Quem o visse a caminhar pela Avenida das Tílias, passo apressado e firme, não lhe adivinharia a idade: 90 anos feitos nesta quarta-feira, 13, no mesmo dia em que lançou mais um livro de crónicas, Porto: As Histórias que Faltavam. “A minha vida não tem nada de especial”, dirá à jornalista (após um abraço, suspenso por um ano e meio de pandemia) o recoletor de histórias e o conhecedor da cidade do Porto como ninguém, à qual chegou ao colo da mãe desde São Martinho de Recezinhos, Penafiel, nos anos 30 do século passado. Filho de um guarda-freio e de uma criada de servir, o mais velho de quatro irmãos passou os primeiros anos com a avó Júlia, com quem aprendeu a “conhecer as árvores e o canto dos pássaros”. Aos 11 anos, começou a trabalhar numa retrosaria, depois numa fábrica de fósforos, mais tarde noutra de lanifícios. “Foram tempos difíceis, que me serviram como exemplo de vida. Nunca olho para trás com recriminações”, dirá. Já jovem adulto, voltou aos estudos, na Escola Comercial Oliveira Martins, ambicionando uma carreira nos seguros ou num banco. Acabou por se fazer jornalista – esteve 40 anos no Jornal de Notícias e, entre outros meios, passou por O Jornal e foi um dos fundadores da VISÃO, em 1993, onde era responsável pela delegação do Porto – movido pela curiosidade e o gosto de ouvir e de contar histórias, que o levaram a andar de alfarrabista em alfarrabista, durante sete décadas, à procura das entranhas do Porto. Recentemente, doou mais de mil documentos ao Arquivo Histórico Municipal que, no próximo dia 28, hão de dar uma exposição. “Germano é o Porto”, dizia o seu grande amigo e poeta Manuel António Pina.
Entrevista à sombra das tílias, na companhia de pavões, entre (perdoar-me-á o leitor a parcialidade…) a jornalista e um dos seus mestres – que, gentilmente, sempre a tratou por “princesa”.