“Gostamos de pensar o teatro e as artes performativas como algo ligado ao que acontece no mundo”, conta Liliana Coutinho, a programadora deste encontro que se intitulou Questões Indígenas, Debate e Pensamento – e que assinala a reta final do ciclo Utopias, que ocupou o Teatro Maria Matos, em Lisboa, durante toda esta temporada. “Foi a primeira vez que fizemos um ciclo tão longo e que ficou marcado por dois momentos históricos muito importantes: os 500 anos da publicação da Utopia de Thomas Moore e os 100 anos da Revolução Russa. Isso levou-nos a este debate: que sentido faz hoje o conceito da utopia e de que forma é que nos pode ser útil, que ferramenta ela se revela”, sublinha. “Foi nisso que nos focámos.”
É neste contexto que surge então aquele que é o último dos grupos temáticos destas conferências – o arquipélago verde – que se debruça sobre as questões indígenas. “Passam-se num território com quem temos uma relação histórica direta, e com povos que também têm uma relação muito própria com o planeta e que raramente são ouvidos.”
Ailton Krenak, o indígena de quem se fala, e cuja palestra decorre este sábado, 6, ao fim da tarde, no Teatro Maria Matos, em Lisboa, nasceu em 1953, na região do vale do Rio Doce, território do povo Krenak, um lugar cuja a ecologia se encontra profundamente afetada pela atividade de extração mineira. Ativista do movimento sócio ambiental e de defesa dos direitos indígenas, a ele se deve o reconhecimento do povo indígena e sua inscrição na Constituição brasileira, em 1988.
“Ele tem uma capacidade imensa de fazer pontes entre os dois mundos, além de trazer com ela toda a tradição oral da história, o que o torna um comunicador e um contador de histórias nato”, remata a responsável do programa, que contou com o apoio da antropóloga Susana de Matos Viegas como consultora científica.