‘Amor’, o quinto livro de Luís Osório, chega este mês às livrarias. São mais de 200 páginas de pequenos textos em que o autor discorre sobre o tema de forma livre, em pensamentos soltos. Aqui ficam alguns:
“Uma relação íntima pode existir sem qualquer intimidade. Podemos fazer amor com uma pessoa de quem somos íntimos e com alguém de quem pouco ou nada conhecemos. Na cama é melhor que exista intimidade, ouvimos. Nuns casos, sim. Noutros, não. Porque uma relação íntima, com intimidade ou sem ela, só resulta quando uns e outros têm a sabedoria de fazer amor sem a rotina de um burocrata. Fazer amor de cor vale o mesmo que o trabalho feito por um operário especializado na mesma tarefa. Precisamos à mesma, mas nunca saberemos o que andámos a perder.”
“Tento encontrar esperança de futuro nos casais e nos seus filhos. Encontro vários que me obrigam a acreditar que a procura da família, seja isso o que for, é a única opção possível. Mas também vejo os que ao fim-de-semana parecem infelizes, sombrios e distantes. A infelicidade das famílias é ensurdecedora, um íman para os olhos. Nos restaurantes, nos parques infantis, nos centros comerciais ou a passear na rua, uma criança rodeada de pais que já não se vêem é uma tragédia impossível de esconder.”
“Se soubesse que um amigo morreria amanhã procuraria saber se de mim precisava. Estaria com ele, faria o que fosse preciso. Mas é uma falsa questão pois nunca saberei se alguém morrerá amanhã ou depois, tudo o que possa dizer é então uma perda de tempo, um entretém de espírito. Mas se colocar como hipótese que qualquer dos meus amigos poderá morrer amanhã, se me convencer dessa verdade absoluta, talvez a minha presença na vida de quem amo seja mais efectiva.”
“No final da corrida, se me perguntarem o que fui, direi o que tentei ser: um pretérito perfeito que esteve, passeou, amou, perdeu, viveu. Quando fizer as contas de somar e subtrair, terei apenas passado. Nada mais certo. Chegado aí, a esse tribunal da solidão, valerá mais ter feito do que ter-me limitado a ir fazendo. Preferível errar toda a vida do que falhar por falta de comparência.”