O primeiro filme português a estrear-se em 2016 tem uma história por trás da história. Patrícia Sequeira, a realizadora, sempre pertenceu ao universo televisivo. É dela a assinatura de novelas como Laços de Sangue, Sol de Inverno ou Mar Salgado e de séries de época como Conta-me Como Foi e Depois do Adeus. Arrisca-se pela primeira vez no grande ecrã.
Depois, é um filme com mulheres, sobre mulheres e para mulheres (e homens que queiram percebê-las melhor). E com uma mão cheia (a expressão não é só idiomática) de excelentes atrizes, que a realizadora já conhecia de ginjeira – Ana Nave, Fátima Belo, Maria João Luís, Ana Padrão e Rita Blanco. Aliás, “a ideia nasceu da vontade de trabalhar com estas mulheres”, revela Patrícia Sequeira. Lá condescendeu e deixou entrar um macho, o Óscar, o cão da Rita Blanco.
O método de criação também foi invulgar: fecharam-se cinco dias numa casa, que acabou por ser o único cenário do filme, e cada atriz trouxe as suas histórias, provocadas por pontos de enredo fornecidos pela realizadora. “Dali saiu um guião, que a seguir a Filipa Leal transformou em argumento, imprimindo-lhe poesia.”
Em novembro de 2014 voltaram à tal casa em Alcácer do Sal para dez dias intensos de gravações. Um ano depois Jogo de Damas estava a estrear-se no Estoril Film Festival, na secção Promessas.
As mulheres estão sempre tramadas
Consegue-se perceber a música Amanhã é Sempre Longe Demais, dos Rádio Macau, nas notas que saem do piano. É o princípio do filme (e será também o final, trauteado pelas cinco amigas) e logo se percebe que na próxima hora e picos haverá muita melancolia a sair do ecrã. Elas estão todas de preto, com a cara cerrada pela tristeza, e os olhos inchados disfarçados por óculos escuros. Morreu Marta, a que falta naquele clã. Como último desejo, pediu-lhes que passassem a noite depois do seu funeral na casa de turismo de habitação que não chegou a abrir. É esse o mote para o enredo.
Rapidamente se percebe que isso causa desconforto a algumas delas – ou a todas. E que cada uma lida com a tristeza à sua maneira. Há conflitos, silêncios, acusações, lágrimas e risos (ainda que provocados pelas ganzas fumadas junto à piscina e pelo vinho tinto). E muitas imagens teatrais, com grandes planos à mistura. Das várias frases feitas que saem dos diálogos entre as amigas, uma fica na memória mesmo depois de se sair da sala de cinema: “As mulheres estão sempre tramadas.”