Não houve lugar para superstições na data de estreia da edição deste ano do Rock in Rio, no Brasil. Ontem, sexta-feira, 13, foi dia de festa.
A noite terminou com uma multidão em delírio perante o espectáculo pop da cantora norte-americana Beyoncé. Constantes mudanças de roupa, coreografias sensuais, uma cenografia pensada ao pormenor e uma voz cheia de soul contribuíram, e muito, para que ao fim de meia dúzia de músicas já se gritasse “diva, diva, diva”.
Crazy in Love, Love on Top, Single Ladies e uma curta homenagem a Whitney Houston, com o clássico I will Always Love You foram alguns dos momentos mais fortes do concerto, que encerrou com uma pequena demonstração do talento da artista para dançar o funk brasileiro.
Apesar das “quebras” iniciais, provocadas pelos vídeos que intercalavam as canções enquanto Beyoncé trocava de roupa – praticamente a cada par de músicas – na segunda hora do concerto o ritmo foi mais forte e ninguém ficaria com dúvidas acerca do seu talento e carisma para deixar a plateia rendida.
No momento da abertura de portas, por volta das duas da tarde, foram muitos os que correram para a frente do palco, apesar de faltarem dez horas para o concerto… Alguns grupos, decidiram, mesmo, acampar junto do recinto durante toda a semana anterior par garantirem o melhor lugar. A atrapalhação da corrida provocou algumas quedas e lesões, mas ir ao posto médico não era uma opção, depois de tanto esforço para conseguir ser dos primeiros a entrar.
As emoções à flor da pele não estavam apenas do lado dos fãs. Minutos antes da entrada do público, a organização juntou-se num abraço colectivo e uniu as vozes para cantar o hino do Rock in Rio, que só era abafado pelo estrondo dos foguetes que assinalava o regresso do evento à cidade onde tudo começou, em 1985.
O primeiro espectáculo seria o dueto entre os portugueses Orelha Negra e o brasileiro Flávio Renegado. Apesar da ingratidão da hora, duas e quarenta da tarde, haveria algum público a assistir ao concerto, resguardado pela sombra do próprio palco Sunset.
À conversa com a VISÃO, Sam The Kid desvalorizou o horário e concentrou-se na “honra” de abrir o festival e no privilégio de o concerto ter sido transmitido para 200 países através do YouTube. E até revelou que o encontro com o artista brasileiro pode não ter terminado aqui: “ele já me cravou uns samples”, contou, no seu estilo descontraído.
Além da cabeça de cartaz, outro dos momentos mais fortes da noite seria, também, no palco Mundo, com o concerto de homenagem a Cazuza, o “pai” do rock brasileiro, membro da banda Barão Vermelho, falecido em 1990. O grupo foi, inclusivamente, cabeça de cartaz na primeira edição do festival, em 1985.
Famílias inteiras entoavam as letras das canções, dos mais velhos aos mais novos. A subida ao palco de Ney Matogrosso provocou uma explosão colectiva de entusiasmo. “Brasil, mostra a tua cara”, ouvia-se em uníssono.
Vários artistas brasileiros subiram ao palco durante o espetáculo, como Maria Gadú, Bebel Gilberto ou Jota Quest.
A politização do discurso foi constante, graças à actualidade das letras do homenageado: “meus heróis nasceram de overdose. Meus inimigos estão no poder” (Ideologia).
A abertura do palco Mundo esteve a cargo da Orquestra Sinfónica Brasileira, que fez o público vibrar com versões de temas de Coldplay, Iron Maiden, Rolling Stones ou Guns ‘n’ Roses. Mas também não faltou Beethoven ou Strauss.
A repetente Ivete Sangalo mostrou que também é uma diva. Pelo menos para os brasileiros… Que não hesitam em “tirar o pé do chão”.
A desilusão da noite seria o DJ David Guetta, com uma prestação morna previsível que foi perdendo o entusiasmo do público. Nada que estragasse a festa das 85 mil pessoas que se deslocaram ao recinto, que será a área de lazer dos atletas Olímpicos nos Jogos de 2016.
Hoje, sábado, todos os olhos estarão voltados para os Thirty Seconds to Mars, Florence and the Machine e Muse. A festa continua.