A metáfora é bem mais visível do que o percurso fatídico destas três personagens que erram pela floresta da bielorrúsia, em plena ocupação nazi, e penam de fome, frio, medo, desconfiança, dúvida, cobardia, e rectidão. Aliás a primeira cena é absolutamente definidora do registo do filme, cheio de longos planos, quase sempre rudes, crus e duros (o director de fotografia é o romeno Oleg Mutu, que já trabalhou com Cristian Mungiu) – não há lugar para o humor nem para a doçura neste filme: com uma única e breve excepção, quando um pai, de um pedaço de madeira, esculpe um cavalo ao filho. E o filme começa, num ambiente hostil, inquietante, num aquartelamento nazi, num vilarejo desolado, três homens são conduzidos para a forca, uma mulher interrompe o cortejo, implora, é afastada, a câmara desvia-se para um recanto lúgubre, como tudo o resto, os rostos, a paisagem desalmada, a situação…e detém-se nuns despojos de carne, ossos, carcaças abandonadas – a forca há de cumprir a sua funesta missão, apenas através dos ruídos, um estalo seco, seguido do ranger das cordas. Tudo o que se segue está relacionado com este enforcamento, e sobre o que ficará para sempre ocultado por esse nevoeiro que é o da história, da guerra, suas circunstâncias e arbitrariedades. Há um homem que supostamente trai, um homem determinado em fazer justiça e vingar os enforcados, e um outro sem escrúpulos, oportunista. E o suposto traidor caminha para a solidão, cava a literalmente a sua própria sepultura, carrega, também literalmente, o seu carrasco e a sua culpa, até não restar ninguém que possa repor a verdade. E isto deve ser mesmo o cúmulo da solidão. Quando os nevoeiros densos podem ser tão tumulares para com um homem justo. E só perduram na história os ecos de um estalo seco seguido do das cordas a rangeram. Para sempre.
No Nevoeiro
De SERGEI LOZNITSA .V tumane, com Nikita Peremotovs Sergei Kolesov Vladimir Svirskiy Vladislav Abashin Yuliya Peresild. Drama. 127 min. Rússia. 2012 Responder Responder a todos Encaminhar