Este disco não parece tão imediato quanto o anterior. É mais de se ir entranhando aos poucos…
Concordo, mas não houve uma intenção deliberada nesse sentido. Houve, sim, outras vontades como a de não cair em fórmulas, mas apenas pegar nas canções, respeitá-las como tal e amplificar os sentimentos aí contidos. No nosso segundo disco, a nossa experiência era a da estrada, tínhamos começado a formar uma banda com quatro elementos e havia uma certa necessidade de ir ao encontro das músicas que funcionavam no palco. Agora, isso não aconteceu… Estamos muito mais conscientes do nosso som como banda, mais tranquilos e não tão preocupados em atingir objetivos.
Este é o disco da maturidade?
Prefiro usar a palavra seriedade. Há uma seriedade consciente no disco, tanto na abordagem às canções escolhidas como nos arranjos. Tudo isto é resultado de um acumular de situações… É o terceiro disco, passámos muito tempo na estrada, já percebemos como tudo funciona. De repente, chegámos a uma altura em que a única coisa que nos interessa é a mesma que era quando começámos: fazer boa música… E isso trouxe-nos uma certa paz.
Há também um expandir das fronteiras musicais do grupo, concorda?
Sim, mas no sentido em que deixou de haver fronteiras. Antes, existiam determinados filtros que nos autoimpúnhamos, por vezes de forma inconsciente, para evitar ambientes aos quais não queríamos estar associados. Desta a vez, a única premissa foi a de gravar as melhores músicas que tínhamos para oferecer, sem grandes preocupações estéticas ou de forma.
Isso refletiu-se no processo de composição?
Nem por isso. Fizemos como sempre. Eu escrevi as canções e, antes de começarmos a gravar, mostrei o material ao resto da banda, para o trabalharmos em conjunto. À medida que falávamos, a única preocupação passou a ser unicamente encontrar o nosso som, da forma mais livre possível.
Até que ponto a rodagem na estrada foi importante para encontrar esse som?
Foi muito importante. No nosso desenvolvimento pessoal e como instrumentistas, mas também na forma mais relaxada como encarámos este terceiro disco.
Acredita que este disco vai dissipar os rótulos que vos têm sido colados, nomeadamente as recorrentes comparações com Bob Dylan e Neil Young?
Não tenho problemas com isso, porque, felizmente, só nos compararam a coisas boas. Por vezes é um pouco redutor, mas consigo compreender, porque é fácil criar esse boneco quando se aparece, como nós, com uma guitarra acústica e uma harmónica… Continuamos a ter essas referências, mas este disco é sem dúvida aquele em que elas são menos notórias…