Identificada pela primeira vez em 1990, no Japão, a chamada “síndrome do coração partido” é uma condição com sintomas semelhantes aos de um ataque cardíaco. Geralmente, ela é causada por uma situação de stresse agudo, como a perda de um ente querido, um acidente de carro ou até um acontecimento feliz como um casamento. Embora seja uma situação reversível, em alguns casos pode levar à morte.
Investigadores do Imperial College, em Londres, no Reino Unido, descobriram agora que ela também está associada a níveis de stress elevado ao longo do tempo e não apenas a choques emocionais súbitos. A descoberta tem por base duas moléculas ligadas à depressão, ansiedade e ao aumento dos níveis de stress – a microRNA-16 e a microRNA-26a – que já tinham sido detetadas em análises ao sangue de pacientes com a “síndrome do coração partido”.
A equipa liderada por Liam Couch avaliou o impacto da exposição às duas moléculas a longo prazo por parte de células de corações humanos e corações de ratos, concluindo que os dois conjuntos ficaram mais sensíveis à adrenalina. No caso dos doentes com miocardiopatia takotsubo, a parte inferior do coração parou de bater e a parte superior do coração bateu mais, explicou o principal autor do estudo ao The Guardian.
“Basicamente, descobrimos que a mesma coisa acontece quando aumentamos a exposição às moléculas”, disse Liam Couch. “Se soubermos que alguém teve a síndrome, teoricamente podemos medir essas moléculas e, em seguida, prever se é provável que a tenham novamente, porque a probabilidade de voltar a ter é de um a cinco.”
Este estudo fornece informações importantes sobre uma forma menos conhecida e mal compreendida de cardiomiopatia, nota Joel Rose, da Cardiomyopathy UK (instituição de caridade que apoia pessoas com esta condição no Reino Unido), citado pelo mesmo jornal. “Ele tem o potencial de melhorar a nossa compreensão de quem pode ser mais suscetível a desenvolver a doença e, consequentemente, melhorar a nossa capacidade de gerir o seu impacto.”
A chave para evitar “corações partidos” poderá ser, então, um tratamento que envolva “medicamentos capazes de bloquear essas duas microRNA”, disse igualmente ao The Guardian Metin Avkiran, diretor médico associado da Fundação Britânica do Coração. Algo que só se saberá com estudos posteriores.