É um perfil alargado, com toda a história, desde o nascimento até à candidatura a Belém, que o jornalista Fernando Madaíl apresenta no livro que será lançado no dia 15, “Sampaio da Nóvoa – Evidentemente a Liberdade”, da editora Âncora.
O título da biografia é uma referência ao livro publicado por Nóvoa em 2005, “evidente mente”, que ironiza sobre as evidências dos problemas nacionais: “O nosso drama nunca foi Estado a mais e iniciativa particular a menos, ou vice-versa. O nosso drama foi sempre Estado a menos e iniciativa particular a menos.”
Mas o título fala também para o enfoque dado por António Nóvoa ao tema da liberdade. Depois de falar várias vezes com o candidato para escrever o livro, Fernando Madaíl concluiu que há três aspetos essenciais realçados por todas as pessoas que entrevistou: “O pensamento próprio, o bom senso e a defesa da liberdade”, disse à VISÃO o jornalista.
Se um dos defeitos apontados ao candidato independente era a sua inexistência pública – uma sondagem citada no livro indica que, em abril, 48% dos portugueses não conheciam António Nóvoa – a publicação que será agora lançada parece propor-se preencher as faltas de informação.
Citando muito do que saiu na imprensa sobre Sampaio da Nóvoa desde que anunciou a sua candidatura à presidência, em Abril deste ano, o autor segue a linha cronológica da vida do ex-reitor da Universidade de Lisboa.
Fernando Madaíl chama-lhe “académico-político” e conta todo o percurso, desde a casa onde Sampaio da Nóvoa nasceu, em Valença do Minho, passando pelos estudos em Coimbra, o amor ao futebol e as primeiras experiências políticas durante as lutas estudantis, antes do 25 de Abril. Depois vem o teatro, Lisboa, Genebra e dois doutoramentos.
Mas é na reitoria da Universidade de Lisboa, a partir de 2006, que dá o salto para a política.
O primeiro marco notado pela opinião pública foi o discurso do 10 de Junho de 2012, explicado no livro como um erro tático do atual presidente da República (ver no final desta página). “E, assim, Cavaco Silva “montou” o palco e “instalou” o microfone para, naquela mesma cerimónia do 10 de Junho, no Centro Cultural de Belém, “nascer” um dos seus eventuais sucessores – e, em vez de um dos seus delfins, seria o candidato que iria tentar reunir todas as esquerdas”.
O discurso acabaria por tornar-se a rampa de lançamento de Sampaio da Nóvoa, resume Madaíl: “Simbolicamente, calava-se o académico; surgia o político”.
As críticas, geralmente com enfoque na falta de provas dadas enquanto político, viriam mais tarde, depois de se apresentar oficialmente como candidato, no Teatro da Trindade, em Lisboa. Fernando Madaíl cita alguns exemplos, como este, de Vasco Pulido Valente, no Público: “A franja radical do PS acabou por inventar uma não-pessoa, um saco vazio onde venha donde vier qualquer militante ou simples simpatizante não se importará de meter o seu voto: no caso o sr. Sampaio da Nóvoa”.
Embora tenha diversos apoios socialistas e seja assumidamente um candidato de esquerda (apoiado pelos anteriores presidentes, Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio), o ex-reitor da Universidade de Lisboa teve de ceder espaço à candidata mais próxima do PS, Maria de Belém Roseira. Depois das legislativas o partido decidiria dar liberdade de voto aos militantes na primeira volta.
O livro que será agora lançado entra no countdown da escolha presidencial. Sampaio da Nóvoa tem pouco mais de um mês para se dar a conhecer, até às eleições, marcadas para 24 de janeiro.

O livro sobre o candidato à presidência será lançado a 15 de dezembro
FARPAS
A esmagadora maioria das mais de 300 páginas do livro são uma descrição do percurso profissional (com alguns pormenores familiares) de Sampaio da Nóvoa. Mas há passagens com tom crítico.
Durão Barroso, ex-presidente da Comissão Europeia
“Poucos saberão que, logo no início do seu reitorado, foi sondado para ser um dos concorrentes à vaga de professor de Educação Comparada em Harvard, o que seria muito importante para a sua carreira, mas que quebrava um compromisso assumido perante os seus pares. E Sérgio Niza, para enaltecer a atitude do amigo, faz um paralelo com Durão Barroso, que optou pelo prestígio pessoal de presidente da UE em detrimento do compromisso de continuar a ser, até ao final da legislatura, primeiro-ministro do governo de coligação PSD-CDS.”
José Sócrates, ex-primeiro ministro do Governo PS
“António Nóvoa irá distinguir dois momentos nos executivos liderados por José Sócrates. “Eu acho que a política do primeiro Governo Sócrates para o Ensino Superior foi errada. Julgo que houve uma política de ataque à autonomia das instituições e de redução brutal e até insensata dos financiamentos para as universidades, que se destinaram exclusivamente a virar a opinião pública contra as universidades. Da mesma maneira que digo isto, digo exatamente o contrário em relação ao segundo Governo José Sócrates.”
Mariano Gago, ex-ministro da Ciência
“Há duas atitudes que não perdoará a Mariano Gago: a sua decisão de retirar as verbas para a investigação das universidades, com o governante a assumir o poder de as atribuir diretamente; e os termos do acordo celebrado entre o Governo e o MIT (Instituto de Tecnologia do Massachusetts), um projeto que só poderia ser celebrado entre universidades, referindo mesmo que houve falta de transparência nos critérios de atribuição das verbas.”
Nuno Crato, ex-ministro da Educação do Governo de Passos Coelho
“Nem sequer hesita quando acusa Nuno Crato de ter “[decalcado o seu programa], vírgula a vírgula, ponto a ponto, da política educativa de George W. Bush” [Ibidem], definida pela expressão back to basics e que, em português, “se [traduz] nas metáforas do ‘ler, escrever e contar’”. No fundo, como já explicava em 1986, tratava-se do “famoso L.E.C. (ler, escrever, contar)” que devia ser “entendido como um meio e não como um fim de cultura, para utilizarmos as palavras de António Sérgio”.
Cavaco Silva, Presidente da República
“Em mais um erro tático, entre os vários que assinalaram a sua estadia no Palácio Cor de Rosa, após ter escolhido, nas cerimónias anteriores, figuras como o cinéfilo João Bernard da Costa, mais conotado com a esquerda, ou o sociólogo António Barreto, mais admirado pela direita, decerto pensando que se tratava de uma personalidade neutra, em 2012 Cavaco Silva convidava António Sampaio da Nóvoa para presidir à Comissão Organizadora das Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesa.”