JL: O que significa para si esta homenagem na Faculdade de Letras?
Urbano Tavares Rodrigues: É algo que me enternece muitíssimo. Um gesto de grande simpatia e amizade pelo antigo professor e pelo escritor. Trata-se de uma iniciativa da Textos e Pretextos, onde vai falar muita gente. Eu falarei da minha experiência enquanto professor.
Tendo em conta o título do seu novo livro, o que escuta do rumor da vida?
A própria vida. Escuto de uma forma diferente. Trata-se de uma novela curta, que não é nem surrealista, nem naturalista. Tem uma visão do mundo multifacetada com uma personagem interessante, o jovem cineasta Francisco Medeiros que adora a mulher mas que tem uma moral um bocadinho elástica. Tanto ele, quanto a mulher, Lídia, pintora, são figuras interessantes. Mas talvez a figura mais interessante de todas, seja o belo tenebroso, Olímpio. Trata-se de um rapaz que começou por fazer tráfico de droga, depois ofereceram-lhe a liberdade a troco de matar um ditador… Mas é melhor não dizer mais nada.
E quem é Vítor Córdova, de Solidões em Brasa?
É alguém que anda à procura do sentido da vida, de uma razão para viver. Procura-a no amor, no sexo, na aventura, na viagem, em mil experiências, algumas completamente loucas. Por exemplo, vai aos Estados Unidos onde tem um encontro com uma espécie de feiticeira. O livro tem muitos elementos mágicos. Também gosto bastante da personagem Maria Lucília, uma pintora cheia de talento que tem várias experiências amorosas mais ou menos fracassadas. Ganha vários prémios, casa com um homem que se apaixona por ela, mas de quem ela não gosta. Descobre que a vida é imperfeita e que a perfeição que ela procura não existe. Ambas as personagens não encontram uma razão para viver.
A sua, é a literatura?
Eu tenho uma vida um bocado absurda com uma insuficiência cardíaca que me faz sofrer muito. Além disso, tenho outros problemas de saúde que me causam uma certa falta de equilíbrio e tudo isso é triste. A minha desforra é escrever e viver o meu universo mágico. Em breve sairá A Feiticeira do Azul, Uma Noite na Póvoa de Varzim, um conto para uma coletânea organizada por Cruz Santos, da Modo de Ler. Não posso estar parado.