Uma das primeiras conclusões a que um freelancer chega assim que começa a trabalhar sozinho é o quanto precisa de outras pessoas. A jornalista Rebecca Seal, freelancer há 12 anos, sabe-o melhor do que ninguém. E é sobre esta e outras conclusões relacionadas com o exercício – por vezes complexo e sempre solitário – de trabalhar por conta própria que fala no livro “A Solo – Como Trabalhar Sozinho (e Não Dar em Doido)”, que acaba de ser publicado em Portugal. Nas 300 páginas, apresenta as principais ideias obtidas através de conversas com especialistas em ciência comportamental, psicologia das organizações e outros nomes que estudam a disciplina do trabalho e bem-estar, além de testemunhos de pessoas talentosas que trabalham sozinhas há vários anos. Um conjunto de conselhos importantes para que os freelancers se mantenham focados e resilientes.
Neste excerto retirado do livro “A Solo – Como Trabalhar Sozinho (e Não Dar em Doido)”, publicado pela Vogais (€18.79), listam-se uma série de dicas úteis para quem vive ou trabalha com freelancers.
As pessoas que nos são mais próximas
A maior parte das pessoas que nunca trabalharam sozinhas não faz ideia de como é trabalhar sozinho. Talvez tenham uma noção ligeiramente melhor se viverem com alguém que trabalha sozinho. E frequente ouvir pessoas dizerem-me algo do tipo: “Deves ser muito disciplinada. No teu lugar, eu passaria o dia a ver televisão e não faria nada.” Se pensassem um ou dois minutos, perceberiam que é um disparate. Até podemos preguiçar durante um dia, ou até uma semana, mas a nossa ética de trabalho cultural, aliada ao medo de nos atrasarmos com a renda ou com o crédito à habitação, põe muitas pessoas a mexer-se rapidamente. A disciplina inata ajuda, mas é rara.
Aqui chegados, há um pequeno guia (que também pode descarregar no meu site — www.howtoworkalone.com — e deixar, por acaso, num lugar visível da sua casa) para quem tenha uma relação ou viva com um trabalhador independente. A seguir, há um guia semelhante para quem conheça, empregue ou recorra aos serviços de freelancers, embora talvez seja melhor não o dar ao seu chefe atual.
Se há um trabalhador independente na sua vida…
- Não se comporte como se o trabalho dele fosse menos importante do que o seu, porque acontece fora de uma organização tradicional ou num horário não tradicional.
- Não parta do princípio de que a outra pessoa está a aproveitar o sol se o dia estiver bom. Nós estamos a trabalhar, tal como você.
- Não parta do princípio de que a outra pessoa pode ir buscar aquela encomenda, deixar roupa na lavandaria, ir buscar aquela coisa, aquele filho, aquelas compras.
- Não parta do princípio de que lá porque o freelancer tem um trabalho flexível, também pode dedicar a si essas horas. O mais provável é já ter dificuldade em colocar o seu próprio trabalho em primeiro lugar, para lhe dar o peso que merece.
- Não parta do princípio de que deve ser ele a cuidar dos filhos nas férias da escola ou a tratar de familiares idosos, a fazer reservas de restaurantes, a marcar médicos/dentistas/cabeleireiros para outras pessoas ou ir a reuniões de pais.
- (Talvez) não compre bolachas para a casa onde o freelancer vive.
- Se o freelancer trabalha muitas horas por dia, desafie-o.
- Festeje o seu sucesso. Assinale os seus feitos; não precisa de lhe oferecer presentes, mas mostre orgulho no que ele fez, porque muitos freelancers não o recebem de mais ninguém.
- Deixe-o falar. Mesmo que tenha tido um dia atarefado no escritório, compreenda que e fundamental para ele, que talvez tenha estado sozinho todo o dia, apoiar a sua saúde mental falando consigo, mesmo que você sinta que precisa de estar sossegado. (Não o faça sentir-se idiota por precisar disto.)
- Saia com ele de vez em quando, mesmo que não tenha vontade, porque esteve fora todo o dia. Ele esteve em casa, sozinho, todo o dia.
- Não parta do princípio de que ele não tem chefe. O mais provável é que ele sinta que os tem às dezenas — e talvez às centenas. Se dá trabalho a um trabalhador independente…
- Pague-lhe. O que é justo. A horas.
- Pague-lhe.
- Deus do céu, pague-lhe de uma vez.
- Não o ignore quando ele o contacta.Agradeça-lhepelo seu trabalho. Dê-lhe feedback. Responda às perguntas que lhe faz ou às ideias que lhe propõe. Mostre reconhecimento por ele existir.
- Saiba que o mais certo é ele ter em mãos vários projetos e estar desesperado por fazê-los todos de forma brilhante.
- Não pergunte se está a aproveitar o dia de sol.
- Parta do princípio de que ele trabalha muitas horas por dia; nunca presuma que, por ser freelancer, trabalha menos.
- Responda-lhe aos e-mails. Se puder, defina prazos justos. Se ele lhos pedir, e se for possível, dê-lhe mais alguns dias.
- Se tiver freelancers regulares, leve-os aalmoçarde vez em quando. Sobretudo no Natal. Se não puder, pague-lhes um copo. Envie-lhes um postal. Envie-lhes flores quando concluem um projeto grande, ou no seu aniversário. Qualquer coisa que mostre que sabe que do outro lado da sua conta de e-mail está um ser humano, não um software de Inteligência Artificial.
- Só para ter a certeza de que nos entendemos: pague-lhe. A horas.
![A SOLO A SOLO](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2021/07/65f0a71353a3b2920a2bcaf9dd402adf7e20d8d6-715x1080.png)