Chris Anderson é o presidente da TED (Tecnologia, Entretenimento e Design). Formado em jornalismo, após a graduação na Universidade de Oxford, lançou com sucesso mais de uma centena de revistas e páginas web antes de concentrar a sua atenção na TED, que viria a adquirir em 2001. O lema desta organização é Ideas worth spreading («Ideias que merecem ser partilhadas»), um lema que, a cada ano, se reafirma e consolida cada vez mais a nível internacional. É autor do livro Charlas TED: la guía oficial TED para hablar en público (Gestión 2000, 2016)1, no qual partilha os pontos-chave para comunicar em público, após ter trabalhado com centenas de personalidades que passaram pelo cenário TED e ter tido oportunidade de conhecer o âmago dos seus discursos. Entre estas personalidades figuram nomes como Ken Robinson, Amy Cuddy, Elizabeth Gilbert, Salman Kahn ou Dan Gilbert. Até 2015 as TED Talks tiveram mais de mil milhões de visualizações.
Conheça as duas dicas infalíveis para uma palestra poderosa, reunidas por Francisco Alcaide Hernández no livro “Aprender com os Melhores” (editora Planeta, capa no final deste texto), que acabou de ser lançado em Portugal.
1. Centrar-se no que vai oferecer ao público é o fundamento perfeito para dar uma palestra
Às vezes, aqueles que vão dar uma palestra entendem tudo ao contrário: querem receber em vez de dar. Uma abordagem egoísta não funciona nem a falar em público nem nos restantes âmbitos da vida. A missão número um de quem fala em público é transmitir algo valioso a quem assiste. Uma ideia valiosa não é uma descoberta científica, nem uma teoria matemática, nem uma invenção inovadora por completo, por vezes pode tratar‑se de um simples conselho prático. Aborda‑se algo que valha a pena partilhar com o público. É como diz Anderson: «Se for capaz de invocar uma ideia poderosa na mente das pessoas, terá feito algo espectacular. Ter‑lhes‑á oferecido um presente de valor incalculável.» O melhor de tudo é que, quando dá, também recebe, e, no geral, muito mais do que aquilo que ofereceu. A genero‑ sidade suscita sempre uma resposta. Se se preocupar em servir, obterá benefícios. O maior inimigo que pode ter perante uma audiência é o seu ego.
2. Qualquer pessoa que tenha uma ideia poderosa a ser partilhada consegue proferir uma palestra poderosa
O leitor também, por muito que não tenha plena consciência disso e que duvide de si próprio. Anderson escreve: «Se sabe como se dirigir a um grupo de amigos durante um jantar, então sabe o suficiente para falar em público.» Toda a gente pode dar uma palestra digna. Qualquer pessoa tem capacidade para ser grande comunicadora se tiver algo valioso para partilhar, o principal é isso, e só mais tarde vem a presença de palco, a autoconfiança e a fluidez do discurso. A carapaça amplifica a mensagem transmitida, mas é algo que vem depois. O objectivo não é chegar a ser um Winston Churchill ou um Nelson Mandela, mas sim contribuir com algo de valor para a audiência, conseguir tornar melhor ou mais fácil a vida dos assistentes graças ao seu discurso. Se tem algo de valor para contribuir, está no caminho certo. Aliás, como salienta o próprio Anderson: «O estereótipo de palestra TED que nos esforçamos por eliminar é: só estilo e pouca substância.»
3. A sua única preocupação quando dá uma palestra deve ser ter algo de valioso para dizer e fazê-lo com autenticidade, à sua maneira, que é única
No palco, a meta é ser quem se é, uma vez que não existem duas pessoas iguais; é na diferença que reside o seu valor. Coloque a sua singularidade em evidência. Para triunfar, deve permanecer fiel a si mesmo. O seu estilo deve basear‑se na sua autenticidade. A autenticidade não se negoceia nunca. A ideia é sempre a mesma: levar algo de valor à audiência e isso pode conseguir‑se de muitas formas: através de um estilo formal ou informal, com ou sem humor, com ou sem elementos visuais. Anderson frisa o seguinte: «Se é um cientista, seja um cientista, não pretenda ser um activista. Se é artista, seja um artista, não pretenda ser um académico. Se é uma pessoa comum, não tente forjar um estilo grandiloquente, intelectual, limite‑se a comunicar de forma coloquial.» Não existe uma fórmula única para pronunciar uma grande palestra. A técnica é importante, mas deve estar sempre ao serviço da autenticidade. Uma boa comunicação é consequente com quem somos.
4. A nossa primeira missão como palestrantes é criar um laço humano de confiança [criar uma ligação] com os membros do público
O objectivo é apenas fazer com que estes se mostrem dispostos – e se permitam encantar – a oferecer‑lhe acesso total à sua mente durante a sua intervenção. Antes de construir uma ideia na mente de outra pessoa, precisa de contar com a sua permissão: «Não se pode forçar a entrada do conhecimento nos cérebros alheios. O conhecimento tem de se deixar entrar.» Uma palestra é como uma viagem, pode ter um itinerário magnífico em perfeitas condições, mas antes há que atrair as pessoas para que estas fiquem predispostas a embarcar consigo nessa viagem. As pessoas, a priori, mostram‑se cautelosas em abrir a mente a um desconhecido. Por isso, é necessário estabelecer uma ligação humana para causar impacte. Se a sua conferência for boa, mas não conseguir conectar com o público, não chegará. O público, as pessoas, todos nós, criamos mecanismos para proteger o que nos entra na mente. Somos, além disso, relutantes em mudar aquilo que pensamos. Um conferencista, para criar impacte, deve desactivar o cepticismo, a desconfiança, o desagrado, o tédio e a incompreensão do público. Tudo isso se consegue ao criar uma ligação emocional com a audiência: «Vou com a tua cara, pareces interessante, tens credibilidade… e agora fala‑me, a ver se me convences.»
5. Os grandes conferencistas procuram criar uma ligação desde o primeiro momento com o público
Quanto mais cedo estabelece uma ligação com o público, melhor irá correr a sua conferência. A pergunta é: como criar uma ligação eficaz com o público? Deixam‑se algumas ideias:
- Quando chega a um evento não crie uma barreira entre si (perito/acima) e o resto (audiência/abaixo). Demonstre proximidade e tente estar no meio do público. É difícil que alguém que lhe pareça arrogante e distante lhe venda as suas ideias.
- Estabeleça contacto visual. O contrário demonstra indiferença. Olhar nos olhos transmite interesse e é indicativo de que lhes presta atenção. É uma forma fantástica de criar
- Em determinados cargos ou postos de autoridade, faz‑se o contrário para marcar distância. Numa palestra, o caso é dife‑ rente: «O contacto visual acompanhado de um sorriso ameno constitui uma tecnologia surpreendente capaz de transformar a recepção de uma palestra.»
- Mostre vulnerabilidade. A perfeição afasta‑nos dos outros. As pessoas perfeitas não são como nós, por isso desligamo‑nos delas. Pertencem a outra dimensão e as suas mensagens não nos são úteis.
- É o íman das relações humanas. Queremos ter por perto aquelas pessoas que nos fazem sempre rir. Uma das funções do humor é criar laços sociais. É por isso que muitas palestras começam com alguma piada. Já dizia Víctor Borge que «o humor é a distância mais curta entre duas pessoas».
- Deixe o ego em Mesmo que seja um craque ou um líder fora de série, é melhor deixar que o público descubra isso por si. Desça do pedestal.
6. O sentido de uma palestra é dizer algo… que faça sentido
O objectivo está em reconstruir na mente dos espectadores uma ideia que o leitor acredita ser importante para Portanto, a primeira coisa é ter algo a dizer; e a segunda é fazer sentido. Por vezes, isto não acontece. Uma palestra deve seguir um fio condutor – linha de argumentação – logo, os conceitos devem ser encadeados de forma coerente. Cada passo segue um anterior, não se dão saltos impossíveis. É como empreender uma viagem em conjunto: o conferencista com o público, na qual o primeiro serve de guia ao segundo: «A linha de argumentação traça o trilho a percorrer. Quando o público sabe para onde está a dirigir‑se, segui‑lo torna‑se mais fácil.» Quando o público fica confuso ou desorientado é, com frequência, porque a palestra foi preparada ponto por ponto, ou frase a frase, mas o percurso geral não recebeu tempo de dedicação suficiente. É importante advertir também que fio condutor não é a mesma coisa que tema. O último é algo mais amplo e o primeiro concretiza o segundo. Além disso, uma linha de argumentação que abarque muitos conceitos não funciona, por‑ que uma palestra com muitos conceitos é uma palestra com conceitos muito pouco explicados.
7. Quando entra no palco deve fazê-lo com uma coisa em mente: o entusiasmo que sente perante a oportunidade de partilhar a sua paixão com as pessoas ali sentadas
Transmitirá paixão e entusiasmo à sua audiência ao falar com paixão e entusiasmo. As pessoas com paixão conquistam sempre seguidores com paixão. Uma das coisas mais poderosas que podemos experienciar ao assistir a uma palestra é a inspiração. O discurso do palestrante comove‑nos e enche‑nos de uma sensação de entusiasmo e possibilidade. Queremos sair da sala a ser melhores pessoas. Uma boa exposição oral pode ser a semente que leva alguém a mudar a sua vida. No entanto, a inspiração não se procura, conquista‑se. Quanto mais procura inspiração, menos encontra. Para a conquistar há algo indiscutível: a paixão, que não é mais que a manifestação explícita da autenticidade. Não é possível demonstrar paixão se não sente paixão por aquilo de que fala. Como afirma Chris Anderson: «A inspiração não pode ser representada; é a reacção do público à autenticidade.» A referência Jim Rohn dizia sempre: «A verdadeira persuasão procede de dar mais de si em tudo o que diz. As palavras produzem efeito. As palavras cheias de emoção produzem um efeito poderoso.»
8. A finalidade de uma palestra consiste em oferecer uma ideia, e não em promover o palestrante
Os maiores inimigos de um conferencista são, sem dúvida, o ego, a soberba e a prepotência, que arruínam qualquer palestra; desligam‑nos dos outros e, sem ligação, é difícil criar um impacte. O importante são as suas ideias e o que estas podem fazer pelo público, não o palestrante. Se for a um evento com essa ideia e agir de acordo com a mesma, conseguirá vender. Se for uma pessoa com ataques de arrogância, lembre‑se de os controlar no palco. Salman Khan, conferencista na TED, disse uma vez: «Seja quem é. As piores palestras são aquelas em que alguém tenta ser quem não é. Se for uma pessoa brincalhona, seja brincalhona. Se for uma pessoa emotiva, seja emotiva. A única excepção é a arrogância e o egocentrismo. Se for uma pessoa arrogante e egocêntrica, tem de fazer os possíveis para não se notar.» Há muito poucas coisas que têm um impacte tão negativo nas pessoas. Não se esqueça disso.
9. Existe uma ferramenta bastante evidente que pode utilizar para melhorar a sua palestra, à qual, no entanto, a maioria dos conferencistas nunca recorre: ensaiar
Quando víamos Steve Jobs no palco parecia‑nos fácil a forma como se expunha; e parecia fácil porque ele o tornava fácil; e tornava‑o fácil porque ensaiava até ficar satisfeito. Dedicava horas a fio a preparar as apresentações para o lançamento de qualquer produto da Apple. O valor da prática não se extrapola apenas em memorização ou em saber o que se vai dizer, mas também a um nível emocional, uma vez que o fará sentir‑se mais confortável e confiante, o público notará, e ajudá‑lo‑á a causar mais impacte. Ao ensaiar, o stress transforma‑se em confiança, e a confiança em entusiasmo. Quando uma pessoa ensaia o suficiente, não precisa de se preocupar com o que vai dizer e concentra‑se na paixão, na emoção e em criar uma ligação com o público. Não ensaiar conduz ao esquecimento de certas coisas e à falta de cla‑ reza, além de o fazer ficar nervoso e ultrapassar o tempo. Este último é outro dos pontos‑chave: ensaiar permite o controlo do tempo, algo que muito poucos conferencistas fazem e que é uma demonstração de respeito para com o público e a organização. Sim, os ensaios são difíceis e aborrecidos, mas os frutos valem a pena. Guy Kawasaki, que trabalhou com Jobs na Apple, escreveu em El arte de cautivar (Gestión 2000, 2011)1: «Pratique a sua apresentação até se aborrecer. Depois, pratique mais. O meu conselho é, faça a sua apresentação tantas vezes quanto puder, porque a repetição melhora a retórica. Steve Jobs pas‑ sava horas a preparar‑se… e estamos a falar de Steve Jobs. Imagine o tempo que o resto de nós deve praticar.»
10. Se conseguir dar uma boa palestra, os efeitos podem ser espantosos
Diversos estudos demonstram que quanto mais uma pessoa fala em público, mais o seu nível de remuneração tende a aumentar. Há corre‑ lação directa entre ambas as variáveis. Isto tem uma explicação: cada vez que o faz tem uma ocasião para causar impacte, e, quando o faz bem, a sua marca pessoal melhora e também o que de positivo daí advém. Dar uma palestra impactante pode abrir‑lhe portas a novas palestras, a projectos futuros e colaborações e permitir‑lhe melhorar os seus honorários. Aprender a falar em público é como aprender a vender − e a primeira influencia bastante a segunda − e deveria fazer parte das suas prioridades, não só por questões de sobrevivência, mas também por uma questão de qualidade de vida, não apenas no âmbito material, claro, mas também no âmbito emocional, devido aos benefícios que tal traz para a auto‑estima. Segundo David J. Schwartz, autor de La magia de pensar a lo grande (ViaMagna Ediciones, 2009)1, falar em público é o acto que mais aumenta a autoconfiança. Chris Ander‑ son também sublinha esse argumento: «Saber falar em público é a forma mais impactante de partilhar quem é e quais são as suas preocupações. Se aprender a falar em público vai aumentar a confiança em si próprio, e ficará, com toda a certeza, espantado com o efeito benéfico que lhe trará para o sucesso na sua vida.»
