No número 87 da Rua da Madelena morou, durante anos, uma das lojas de artesanato português mais importantes da cidade (e do país), a Santos Ofícios. Quando o espaço ficou livre, o dono do prédio ‘ofereceu-o’ ao designer francês Emmanuel Babled, que tem o seu Babled Design Studio instalado no mesmo edifício. “De alguma maneira a Prime Matter já existia no coração do Emmanuel e ele resolveu avançar”, conta a diretora da nova galeria, Alice Galeffi. Abriu portas no dia 23 de maio, com o objetivo de juntar tecnologia, história e o saber-fazer manual, no trabalho com diferentes artistas e artesãos, seja através de exposições, seja em conversas com pessoas da área ou outros eventos. “É importante inspirar as pessoas em Portugal. Para se evoluir na área dos crafts [artesanato] é importante provocar discussões e convívios entre pessoas”, diz o próprio Emmanuel Babled, em referência às conversas com artistas estrangeiros que vão acontecer nos próximos meses.

A exposição inaugural foca-se na madeira, material utilizado pelo homem há anos – “A antiga língua grega não tinha uma palavra para matéria, pelo que Aristóteles adaptou o termo madeira para esse fim”, lê-se no manifesto da galeria – e traz um conjunto de peças desenvolvidas pelo marceneiro dinamarquês, estabelecido em Milão, Anders Lunderskov, e pelo próprio Emmanuel Babled. “A exposição é uma homenagem à marcenaria, feita com peças de diferentes madeiras e técnicas”, diz a diretora da Prime Matter. Há mesas, armários, caixas de joias, cadeiras e até um espelho. Anders tem um gosto especial pelos mecanismos secretos das antigas peças de madeira, com os seus compartimentos secretos e uma das que está exposta é um autêntico cabinet of curiosities, que dá pano para ser explorado durante vários minutos. De Emmanuel Babled existe, por exemplo, uma icónica mesa, aqui numa versão especial feita em mogno, que é já uma das suas imagens de marca.

Emmanuel Babled nasceu em França, viveu 25 anos em Milão, cidade onde começou por trabalhar como designer industrial, outros cinco em Amesterdão, antes de se mudar para Portugal, há cerca de oito anos. É conhecido pelas formas orgânicas com que trabalha as suas peças, sejam de vidro, mármore ou outros materiais. “Em setembro vamos ter outra exposição dedicada ao vidro e em novembro, ao mármore e pedra”, conta. Sempre focadas nos materiais, nas tradições, no artesanato e na modernidade. “Não celebramos só o passado. Olhamos para o futuro”, remata.
Rua da Madalena, 87, Lisboa / seg-sex 10h-17h