Faye Driscoll descreve Weathering como uma “escultura de carne multissensorial feita de corpos, sons, cheiros, líquidos e objetos”. Um pequeno palco móvel, semelhante a uma jangada, é ocupado de forma periclitante pelos dez intérpretes. Embarcam numa jornada que se torna cada vez mais turbulenta, com a assistência muito próxima, ao seu redor, a acompanhar cada transição. Os performers cantam e repetem palavras, uivam, gemem e suspiram, como um coro em crescendo. Parecem estar à beira de um precipício, e não se percebe se se agarram ou empurram mutuamente, naquela coreografia de microeventos.
“Como sentimos o impacto de acontecimentos que nos atravessam e são muito maiores?”, questiona no texto de apresentação a aclamada artista norte-americana, classificada pelo The New York Times como um “talento surpreendentemente original”. Driscoll costuma levar os seus elencos ao limite, assim como o público, mas nesta peça é particularmente eficaz nesse propósito, criando uma experiência imersiva e intensa. Vapor, água e plumas pairam no ar, envolvendo a todos.
Os movimentos tornam-se mais acelerados e não há um porto seguro para esta equipa. O que motivou o cataclismo fica por esclarecer – embora as pistas sugiram uma ligação com a crise climática. Seja qual for o entendimento, o quadro vivo concebido em Weathering dificilmente cairá no esquecimento, tal foi o despertar dos sentidos.
Weathering > Teatro Municipal Rivoli > Pç. D. João I, Porto > T. 22 339 2201 > 8-9 nov, sex-sáb 19h30 > €9