Apresenta-se como “um filme provocador e deliberadamente imperfeito”, como se andasse à procura de grãos de areia para empenar a engrenagem. Mas o que, de facto, o filme exibe é uma imensa liberdade, como quem quer libertar o cinema das suas amarras narrativas e conceptuais, ainda que para isso se sirva de outros filmes.
Arrabalde lembra, por exemplo, os gestos livres de Joaquim Pinto e Nuno Leonel, o cinema peculiar de José Oliveira, ou, para dar um exemplo geracional mais próximo do universo do realizador, Pedro Cabeleira. Por imperfeito que possa parecer, Arrabalde, dito filme manifesto observacional, só pode ser trabalho de alguém que viu bom cinema e saiu da Escola Superior de Teatro e Cinema há pouco tempo.
O filme inicia-se de forma tosca, com filmagens de telemóvel, numa mota à Moretti a circular pela Amadora e leva-nos até a uma peça quase sem público – chega a lembrar José Álvaro Morais, mas sempre mais rude. Depois, finamente envolve-nos em devaneios narrativos, por vezes quase sketches, com reflexões sobre a vida e a sociedade, com imagens mais ou menos sugestivas. Não abdica de momentos de humor, e de um olhar irónico ou satírico sobre aquilo que o rodeia.
Entre amadores e profissionais, conta com um elenco capaz de agir com a naturalidade exigida, incluindo o próprio realizador. Destaca-se naturalmente Luís Miguel Cintra, grande parte do tempo em off, mas também protagonizando uma das melhores cenas.
Arrabalde > De Frederico Serpa, com Frederico Serpa, Martim Guerreiro, Luís Miguel Cintra, Valerie Bradell, Manuel João Vieira, Pedro Lacerda > 76 min