Quando o MEO Kalorama surgiu, em 2022, muitas dúvidas também surgiram sobre se ainda haveria espaço para mais um grande festival de verão em Portugal, ainda por cima acontecendo no final da estação, depois de todos os outros. Graças a um alinhamento eclético, escolhido sempre com critério, à localização no centro de Lisboa, no Parque da Bela Vista, e a uma postura ao nível da sustentabilidade, ganhou um lugar na primeira divisão dos festivais de música, assumindo-se até como uma das principais referências. Basta olhar para os cartazes apresentados nas duas primeiras edições para perceber a aposta num público mais adulto, informado e conhecedor, em suma, mais urbano, como volta a acontecer este ano.
São várias as atuações a ter debaixo de olho. Como o mais difícil, nos grandes festivais, é mesmo escolher, especialmente quando há quatro palcos a funcionar em simultâneo, selecionámos sete concertos que consideramos obrigatórios entre esta quinta, 29, e sábado, 31, no Parque da Bela Vista.
Este ano acontece, pela primeira vez, o Kalorama Madrid, precisamente nos mesmos dias em que a edição de Lisboa, com muitos dos artistas a tocarem, assim, nas duas capitais ibéricas.
1. Ana Lua Caiano
É um verdadeiro talento a capacidade desta artista de misturar a música tradicional portuguesa com uma eletrónica plena de experimentalismo, conseguindo criar melodias simples, que remetem para uma memória coletiva antiga, através de coros e harmonias, mas também para a vida do quotidiano, com recurso a sintetizadores, beat machines e samples, que trazem a herança popular para o mundo moderno num formato de one woman show. Depois de dois EP, Cheguei Tarde a Ontem (2022) e Se Dançar é Só Depois (2023), que a consagraram como uma das mais consistentes certezas que surgiram na música portuguesa na primeira metade da década, lançou este ano o elogiado álbum de estreia Vou Ficar Neste Quadrado. Palco MEO > 29 ago, qui 19h15
2. Massive Attack
Quando Mezzanine foi editado, a 20 de abril de 1998, parecia um disco amaldiçoado, depois de várias vezes adiado e modificado. Tinha sido pensado de modo a afastar-se das sonoridades mais urbanas dos trabalhos anteriores e Robert del Naja (ou 3D, que com Grant Marshall, ou Daddy G, compõe o núcleo criativo da banda) inspirara-se nas sonoridades new wave de final dos anos 70. Por esta altura, e depois de já terem editado Blue Lines (1991) e Protection (1994), o trio era uma instituição da nova vaga da música britânica, a que se convencionou chamar trip hop, interligando estilos como hip hop, dub e eletrónica. Faltava-lhes, no entanto, um golpe de asa e esse surgiu com Mezzanine, que não só foi o disco de maior sucesso dos Massive Attack, como ganhou o estatuto de obra de referência na história da música popular. Palco MEO > 29 ago, qui 20h05
3. Ezra Collective
O terceiro álbum de originais deste quinteto londrino, Dance, No One’s Watching, será editado três dias antes da atuação no Kalorama, que marca o regresso de TJ Koleoso, Joe Armon-Jones, Femi Koleoso, Ife Ogunjobi e James Mollison aos palcos nacionais (estiveram em 2023 no Super Bock Super Rock). Tal como então, o concerto dos Ezra Collective, que revolucionaram a cena jazzística pelo modo como cruzam soul, hip hop, calipso e afrobeat, tem tudo para ser um dos momentos altos do festival. Palco Lisboa > 30 ago, sex 00h30
4. LCD Soundsystem
Quando surgiram, no início de 2000, foram um dos projetos musicais que melhor definiram o espírito da viragem do milénio, apresentando-se como a banda sonora perfeita de uma época em que tudo se (con)fundia. A sua música, ela própria uma espécie de recuperação do passado, tanto antecipava um futuro caótico como soava tão familiar como sempre. Deram-se a conhecer em 2005 com um álbum homónimo de estreia que lhes valeu logo uma nomeação para os Grammy. A esquizofrénica mistura de eletrónica, punk, disco, krautrock e rock psicadélico com a candura da pop viria a ser ainda mais aprimorada no trabalho seguinte, Sound of Silver, seguindo-se o terceiro registo, This is Happening. Mas o sucesso foi breve e, em 2011, James Murphy anunciou o fim. Regressaram em 2017 com American Dream e não mais deixaram de andar por aí, com a festa a continuar agora no Kalorama. Palco MEO > 30 ago, sex 24h
5. Ana Moura
Já há muito que o lançamento de um disco não provocava tanto burburinho em Portugal, afinal não é todos os dias que uma das mais consagradas artistas de fado, um género musical ainda tido como bastante conservador, se atira assim, para fora de pé, nadando pelas águas profundas de todo um novo oceano, onde a tradição, mais do que uma âncora, serve antes de bússola para chegar a novos portos. Em Casa Guilhermina, álbum cujo nome é uma homenagem à avó, o fado surge assumidamente de forma mais subliminar, misturado com estilos tão diversos como o semba e a kizomba da Angola da sua mãe, o malhão do Minho do seu pai, o fandango do Ribatejo, onde viveu grande parte da vida, ou a eletrónica da nova Lisboa, da qual ela própria faz parte. Palco MEO > 31 ago, sáb 19h45
6. The Kills
Já lá vão mais de 20 anos desde que os The Kills se apresentaram ao mundo com uma música crua, honesta e visceral, feita apenas a dois, que cedo lhes garantiu um lugar de destaque no Olimpo do rock. Desde então, o duo composto pela americana Alison Mosshart (voz) e pelo britânico Jamie Hince (guitarra) editou cinco álbuns, com os quais alargou cada vez mais o seu universo sonoro, novamente expandido em God Games, um álbum criado durante a pandemia e editado apenas no ano passado, em que as cordas da guitarra foram substituídas pelas teclas de um midi. Um trabalho que agora apresentam finalmente em Portugal, no palco do Kalorama. Palco San Miguel > 30 ago, sex 19h40
7. Burna Boy
Depois de duas atuações no festival Afro Nation, em Portimão, a superestrela nigeriana apresenta-se pela primeira vez em Lisboa, para encerrar em festa o palco principal, com a sua irresistível mistura de dancehall, hip hop, R&B e afrobeat. Natural do estado de Rivers, no Sul da Nigéria, é, a par de Wizkid, uma das figuras de proa da nova cena musical nigeriana, que elevou à primeira divisão da música mundial, como o atestam as inúmeras nomeações para prémios como os MTV Europe Music Awards, os Brit Awards ou os Grammy, que venceu em 2021, na categoria de Melhor Artista Internacional. Palco MEO > 31 ago, sáb 00h30