Prima Facie, o título original, é uma expressão jurídica em latim que significa À Primeira Vista, nome com que esta peça, primeiro monólogo de Margarida Vila-Nova, se apresenta em Portugal. “O projeto começou há dois anos quando uma amiga psicóloga me falou deste texto de Suzie Miller e me desafiou a ir vê-lo a Londres”, conta a atriz, que veste a pele de Teresa, uma jovem de uma família da classe trabalhadora que se tornou uma advogada de defesa de sucesso.
Ganhar está-lhe no sangue, até que a vida lhe prega uma partida. Na posição de vítima de agressão numa relação, vê-se confrontada com a dúvida sobre a denúncia, numa inversão de papéis que dá corpo à história encenada por Tiago Guedes, que também se estreia na direção de um monólogo. “O texto é escrito por uma mulher, a personagem tem de ser interpretada por uma mulher, achei importante convocar um homem para a encenação”, afirma Margarida Vila-Nova.
Numa espécie de tribunal invertido, o espectador vê-se no lugar dos juízes, sob uma “luz belíssima” criada por Nuno Maia, que constrói todos os ambientes de cada cena, descreve a atriz, e acompanhado pela música da Carincur, “de uma subtileza e de uma delicadeza enormes, que ajuda a contar a história”.
Tiago Guedes leu o texto premiado e estreado em 2019 no Griffin Theatre, em Sydney, e percebeu o impacto que tem tido pelo mundo fora, mas o que o entusiasmou neste trabalho foi a possibilidade de trazer à discussão a Justiça. “Precisamos de lhe dar a atenção devida, de a modernizar e de a olhar com uma nova perspetiva”, defende. Por outro lado, “a violência dentro das relações fez-me querer muito mexer nisto”, justifica.
Em cima do palco, Margarida Vila-Nova desafia o público “a questionar-se sobre estes temas”, diz, acrescentando: “O teatro e as artes, de uma maneira geral, podem ter esse poder de inquietar, consciencializar e fazer despertar para alguns temas que possam estar abafados ou camuflados.”
À Primeira Vista > Teatro Maria Matos > Av. Frei Miguel Contreiras, 52, Lisboa > até 10 ago, qui-sáb 21h > €20