Nos dias que correm, há obras que, pela sua singularidade, sobrevivem ao consumo acelerado de imagens nas redes sociais e até ganham um novo fulgor. É o caso do trabalho de Yayoi Kusama, artista japonesa com 95 anos, que se transformou num ícone popular em todo o mundo.
“Não é preciso apresentá-la, mas ao mesmo tempo é preciso reapresentá-la. Atualmente tem uma grande visibilidade, inclusive no mundo da moda [recorde-se a sua colaboração com a Louis Vuitton], e há razões para isso: o rigor, a consistência e a radicalidade da sua obra”, defende Philippe Vergne, o diretor do Museu de Serralves, na apresentação da exposição Yayoi Kusama: 1945 — Hoje.
Desde 2019 tentava trazer a artista ao Porto e conseguiu-o graças à parceria feita com o M+, de Hong Kong, que tinha organizado uma grande retrospetiva, inaugurada em novembro de 2021. Refira-se que, até à sua conclusão, em maio de 2023, a mostra do museu de arte contemporânea asiático recebeu 280 mil visitantes, tendo seguido depois para o Museu Guggenheim de Bilbau, onde foi também recebida com entusiasmo. Em Portugal, espera-se igual acolhimento.
Yayoi Kusama: 1945 — Hoje reúne cerca de 160 trabalhos, desde os desenhos feitos na adolescência, durante a Segunda Guerra Mundial (que tanto a marcou), às salas imersivas criadas mais recentemente e que fazem as delícias do público.
A produção abundante, que inclui pinturas, desenhos, esculturas, instalações e performances, espelha a inquietação da artista japonesa, que usou a arte como forma de cura e de elevação. Não nos deixemos enganar pelos padrões coloridos e pelos motivos aparentemente superficiais: as questões profundas sobre a existência são obsessivamente exploradas por Kusama e orientam o seu processo criativo.
Os autorretratos que espelham as suas experiências psicológicas e emocionais – Yayoi vive há décadas numa clínica psiquiátrica, por vontade própria –, a captação da ideia de infinito, a identificação com as plantas (em especial, as abóboras, vistas como alter egos), a visão cósmica traduzida nos icónicos padrões de bolinhas (metáfora do sol, da terra e da lua), o fascínio pela morte, mas também a força da vida são algumas das ideias que foram trabalhadas ao longo da sua carreira. Temáticas interligadas na exposição de Serralves, apresentadas sem preocupação cronológica.
Yayoi Kusama: 1945 — Hoje > Fundação de Serralves > R. D. João de Castro, 210, Porto > T. 22 615 6584 > 27 mar-29 set, seg-sex 10h-18h, sáb-dom 10h-20h > €20 (bilhete geral)