A forma mais fácil de olhar para a coisa é afirmar que Almodóvar fez o seu Brokeback Mountain. Mas Estranha Forma de Vida é muito mais do que isso. Almodóvar quis fazer um western e fez um western à Almodóvar.
Antes de ser outra coisa, Estranha Forma de Vida é mesmo um western. Almodóvar respeita cuidadosamente os códigos do género, tendo como referência os clássicos americanos, apesar de ter filmado no espanhol deserto de Tabernas (onde foram feitos os western spaghetti). Desde o primeiro momento, são expostos os traços estilísticos desse género cinematográfico western, de forma inequívoca e mais clara até do que os traços estilísticos transversais ao percurso do realizador. Até porque, além de ser falado em inglês, este é um dos raros filmes de Almodóvar praticamente sem mulheres.
A primeira grande marca almodovariana está na banda sonora endógena. No único pormenor anacrónico a que se deu ao luxo, o realizador coloca um jovem cowboy a cantar Estranha Forma de Vida, clássico de Amália, na versão de Caetano Veloso. O filme, contudo, acaba por ir de encontro aos grandes temas de Almodóvar: desejo e morte. Isto ao contar uma história de amor homossexual num contexto inóspito, em que as obstinações e intenções contraditórias das personagens criam uma tensão dramática e emocional que se sobrepõe a tudo o resto. Um autêntico duelo de emoções. Este é um grande pequeno filme, que Almodóvar tem a coragem de estrear em sala um pouco por todo o mundo. Porque o cinema não se mede aos palmos.
Estranha Forma de Vida > De Pedro Almodóvar, com Ethan Hawke, Pedro Pascal e José Condessa > 31 min