A música do Landfall (2018), álbum composto por Laurie Anderson e pelo Kronos Quartet, ouve-se durante quase todo o espetáculo. Um quarteto formado por homens musculados, com calças de uniforme, move-se lenta e suavemente ao som dos ritmos mais pausados, enquanto outro grupo de sete homens e mulheres, mais heterogéneo, segue as batidas mais aceleradas.
O primeiro “personifica arquétipos e mitos de masculinidade crua e endurecida”, como uma força militar que impõe a sua autoridade, perfeitamente sincronizada; o segundo “está em constante procura de um ADN individual e distinto”, e avança de forma desordenada. Parecem evocar os extremismos que pululam pelo mundo e os fossos cada vez mais fundos entre forças dissonantes.
Com MOMO, Ohad Naharin, coreógrafo residente da Batsheva Dance Company, de Telavive – durante 18 anos, de 1990 a 2018, foi o respetivo diretor artístico –, alterou o seu processo criativo. Começou por escrever duas peças distintas e por dividir os bailarinos em dois grupos, que também deram um contributo substancial às coreografias (assim como Ariel Cohen, assistente artístico). Mais tarde, fundiu-as no palco, para um embate que hipnotiza o público.
Enquanto bailarino, Naharin entrou para a Batsheva em 1974, tendo depois integrado as companhias de Martha Graham e de Maurice Béjart. Notabilizou-se, mais tarde, como coreógrafo e criador da linguagem corporal Gaga, que busca a intensificação da sensibilidade e da imaginação, uma maior consciência corporal, a descoberta de novos hábitos de movimento e o ultrapassar de limites.
Os bailarinos da companhia seguem, aliás, esta disciplina nos treinos diários – vão decorrer masterclasses em Lisboa, para quem quiser experimentar –, que tem cativado muitos outros, no mundo da dança e não só. Uma voz única, que tornou a Batsheva extremamente popular nos grandes palcos.
MOMO > Centro Cultural de Belém > Pç. do Império, Lisboa > T. 21 361 24 00 > 13-14 jul, qui 21h, sex 18h30, 21h > a partir de €21