Vivemos tempos conturbados, e temas como a pandemia, a guerra, a crise migratória ou o passado colonial prendem a atenção da comunidade artística. A 46ª edição do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI) pretende trabalhar o binómio trauma-bravura, com os artistas convidados a darem visibilidade, forma e significado a estas experiências. Começa com #5BOCHIZAMI, nesta quarta, 10, quinto e último capítulo de NA LUT@, projeto de longa duração, idealizado por Flávia Gusmão, dedicado a Samira Pereira (1976-2021), produtora e ativista cultural cabo-verdiana, vítima da Covid-19. Uma viagem pelas diferentes fases do luto, com elementos utilizados nas criações anteriores (áudios, filmes, instalação e performance) a contribuir para o imaginário exposto no palco.

Da programação constam 14 espetáculos (sete dos quais são coproduções FITEI) de grande impacto, a evocar conceitos como os da violência, memória e política. Em Cosmos (dias 11 e 12), Cleo Diára, Isabél Zuaa e Nádia Yracema projetam um horizonte afrofuturista, através do resgate da mitologia africana e da revisão de episódios históricos. Já em Limbo (dias 19 e 20), Victor de Oliveira, artista da diáspora luso-moçambicana, cria um mosaico que percorre a história íntima de um homem mestiço nascido em Moçambique. Destaque-se, ainda, Hamlet (dias 12 e 13), em que a encenadora peruana Chela de Ferrari recorre a um grupo de pessoas com síndrome de Down, historicamente consideradas um fardo, para apresentar as questões existenciais do texto de Shakespeare.
Para tratar dos dramas dos refugiados, o espanhol Mario Veja recorre a uma experiência imersiva de teatro documental, Moria (dias 19 a 21), baseado em testemunhos recolhidos no campo homónimo. De regresso ao FITEI estão os catalães Agrupación Señor Serrano e os seus criativos dispositivos cénicos tecnológicos, desta vez com o projeto Una Isla (dias 18 e 19), que se debruça nos desafios da era digital. Refira-se, ainda, Condomínio (dias 19 e 29), de Nuno Nunes, criador que esteve em residência artística no Porto, onde trabalhou com uma comunidade de moradores (que integra o espetáculo) sobre a cidadania e o sentido de pertença aos lugares.

FITEI > Várias salas do Porto, Matosinhos, Vila Nova de Gaia e Viana do Castelo > T. 22 325 8249 > 10-21 mai > €5 a €16 > Programação completa em fitei.com/pt