1. Os Nikia∑ do Nikias, Lisboa
Há artistas que têm dificuldade em vender a sua obra e acumulam-na como podem ou oferecem-na; outros entram de tal forma no “mercado” que num ápice veem tudo voar para longe. Nikias Skapinakis – o pintor português, nascido em Lisboa, em 1931, com nome menos português (de origem grega) – impôs-se desde cedo como uma das referências importantes nas artes plásticas nacionais, mas fez questão de manter, na sua coleção privada, obras suas de várias épocas e fases.
Basta olhar, nesta exposição, para a peça mais antiga e para as mais recentes para percebermos como foi longa e profícua a sua viagem. Datado de 1950, tinha o artista 19 anos, vemos um pequeno quadro, de registo clássico, impressionista, pintado a guache sobre papel, intitulado Paisagem com Figura. A série Preto e Branco ocupou Nikias nos últimos anos de vida, de 2018 a 2020 (morreu em agosto desse ano), e dela podemos agora ver três exemplos nas paredes da Sala dos Fornos do Museu do Chiado. O contraste dessas obras finais com aqueles que são os quadros mais célebres de Nikias Skapinakis, das décadas de 70 e 80, figurativos e abstratos, com cores quentes, fortes, contrastadas, é enorme.
Como que construída pelo olhar exterior de um colecionador sábio, este acervo agora exposto funciona como uma antologia que nos permite visitar várias fases e séries. P.D.A. Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado > R. Serpa Pinto 4, Lisboa > T. 21 343 2148 > até 21 mai, ter-dom 10h-18h > €4,50
2. Plástico: Reconstruir o Nosso Mundo, Lisboa
Foi para exposições assim que nasceu, em 2016, em Belém, o Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia. Todas essas dimensões se cruzam (e podemos acrescentar-lhe a Ciência e o Ambiente/Sustentabilidade) em Plástico: Reconstruir o Nosso Mundo, uma coprodução do MAAT com o museu alemão Vitra Design Museum e o escocês V&A Dundee.
Sempre com os diversos materiais a que chamamos, genericamente, “plástico” como pano de fundo, há aqui uma narrativa clara, que nos faz sair do museu a pensar no futuro. Tudo começa com uma instalação vídeo do arquiteto e designer Asif Khan (também responsável pelo design de toda a exposição): ao som de Strauss, somos levados pela maior das viagens, desde as origens da vida na Terra, com micro-organismos nos oceanos, até à era da exploração dos combustíveis fósseis e o regresso aos oceanos, desta vez habitados por microplásticos…
Embarcamos, depois, numa história bem humana, com grandes viragens, paixões, criatividade, medos, desilusões… Os primeiros plásticos, com origens naturais (animais e vegetais), afirmaram-se no século XIX, com a promessa revolucionária de permitir uma industrialização de produtos de consumo sem recorrer só a matérias como o metal e a madeira. No século XX, a aventura acelerou e uma série de materiais sintéticos, ligados à indústria petroquímica, fizeram a Humanidade sonhar mais alto: possibilidades infinitas nas formas e, aparentemente, na escala de produção. Em 1924, a revista Time fazia capa com Leo H. Baekeland, inventor da baquelite, reconhecendo a importância desses progressos para o mundo.
A exposição vai ilustrando cada fase histórica com objetos (do acrílico nos aviões da II Guerra às peças de Lego…), até chegarmos ao momento, há cerca de 50 anos, em que a superabundância de plásticos passou a ser vista como uma ameaça. Na secção final, espreitamos o futuro, com várias alternativas, mais sustentáveis, para substituir alguns dos plásticos que inundam as nossas vidas. P.D.A. MAAT > Av. Brasília, Lisboa > T. 21 002 8130 > até 28 ago, qua-seg 10h-19h > €9 (acesso a todas exposições)
3. Ó (Ó Agudo), Lisboa
Sónia Almeida quer pôr-nos a pensar nas limitações daquilo que é considerado pintura. Nascida em Lisboa, com um mestrado feito em Londres e radicada em Boston, desde 2008, a artista apresenta, na Culturgest, 40 obras produzidas nos últimos 15 anos. “Há muitos outros formatos diferentes de pintar, que não só o óleo em tela, e também muitos mecanismos diferentes de acionar a pintura”, diz.
Técnicas distintas, formatos menos rígidos e estáticos, tudo serve para a artista se expressar. “Para alguém, se calhar os tecidos não são pintura, mas não nos podemos esquecer de que eles têm de ser tingidos. Penso dessa maneira mais aberta acerca do mundo, porque ligo muito à materialidade das coisas, como elas são construídas”, continua.
A exposição abre com a série de trabalhos Esquerda/Direita Eu Sou Duas, de 2009. São quadros pequenos, em que Sónia Almeida utilizou as duas mãos para pintar, expostos na parede como livros que se podem abrir e fechar. Motores de Busca (de 2011), que veio da Coleção Atelier-Museu Júlio Pomar, ocupa o centro de uma das salas. São cinco estruturas de madeira, em forma de prisma, que rodam, e nas quais a artista reproduziu parte dos painéis de Júlio Pomar no Cinema Batalha, pintados no final da década de 40. À medida que avançamos pela Galeria 2 da Culturgest, os trabalhos vão ganhando dimensão. A Sala 4 funciona como uma pausa, para nos determos nas vitrinas em que se mostram vários livros e cadernos da artista. I.B. Culturgest > R. Arco do Cego, 50, Lisboa > T. 21 790 51 55 > até 2 jul, ter-dom 11h-18h > €5, dom €1
4. Dream House de Gregory Crewdson, Lisboa
Olhar estas imagens é como entrar no cenário de um filme de Hollywood. A perfeita iluminação cinematográfica, a decoração retro das casas, as personagens que compõem os vários momentos do dia a dia de uma pretensa família americana a viver o seu possível sonho americano. Os próprios atores que protagonizam as fotografias artísticas vêm do grande ecrã: Julianne Moore, Gwyneth Paltrow, Dylan Baker, Tilda Swinton, Philip Seymour Hoffman, entre outros, compõem este melodrama captado em “single frame movies”, “momentos congelados”, como lhes chama o autor, o conceituado fotógrafo americano Gregory Crewdson. São 12 as obras de arte da série Dream House, que fazem parte do acervo da coleção de fotografia do Novobanco – considerada uma das melhores coleções corporativas do mundo, com mais de mil obras de 300 artistas nacionais e internacionais – e que podem ser vistas até agosto no Espaço Novobanco, em Lisboa. A entrada é gratuita. M.A. Espaço Novobanco > Pç. Marquês de Pombal, 3, Lisboa > até 31 ago, seg-sex 9h-17h > grátis
5. Luigi Ghirri, Obra Aberta, Lisboa
As paisagens de Luigi Ghirri (1943-1992), pautadas pela leveza e inundadas de luz, são de quem as contempla, arriscando projetar o que vive dentro de si nos cenários que tem à frente. E, pela primeira vez, chegaram a Lisboa, graças a uma co-produção entre o CCB Centro de Arquitetura – Garagem Sul, a Festa do Cinema Italiano e a Associação Il Sorpasso.
Luigi Ghirri, Obra Aberta apresenta, até dia 4 de junho, no Museu CCB, uma seleção de 79 fotografias, criadas na década de 1980, ao longo dos últimos 12 anos de carreira daquele que é considerado o grande mestre italiano da fotografia de paisagem.
Apesar de as obras expostas serem, como sublinha a filha do fotógrafo, Adele Ghirri, “a ponta do iceberg de um acervo com 150 mil imagens”, o curador da mostra, Pedro Alfacinha, assegura que representam uma verdadeira metáfora para a totalidade da obra de Ghirri.
“Não é uma série, é uma reflexão sobre o espaço e a relação da vida com ele. Nos anos 1980, Ghirri voltou-se para a fotografia de paisagem e captou o espaço onde todos nós nos projetamos”, explica o curador.
Além de várias polaroids tiradas pelo artista nas décadas de 1970 e 1980, o curador escolheu também 31 fotografias de grande formato, “autênticas raridades” na obra de Luigi Ghirri, conhecido por trabalhar maioritariamente com formatos mais pequenos. M.A.N. Museu CCB > Pç. do Império, Lisboa > até 4 jun, ter-dom 10h-19h > €5
6. Centenário do Nascimento de Mário-Henrique Leiria 1923-2023, Lisboa
Mário-Henrique Leiria faz parte desse restrito grupo de artistas do século XX, assumidamente marginais, que vão conseguindo encontrar novos públicos a cada geração. Neste caso, essa sobrevivência deve-se muito ao seu humor, particularmente a um improvável best-seller que editou nos anos 70: Contos do Gin-Tonic (a que se seguiu Novos Contos do Gin). Numa altura em que ninguém por cá falava em microcontos, estas prosas breves, carregadas de ironia, humor e salpicadas de absurdo nonsense, foram um sucesso. E ainda são.
Na exposição que agora se pode ver no Centro de Arte Manuel de Brito (CAMB, nova designação da original Galeria 111, no Campo Grande), percebemos a caleidoscópica dimensão do universo artístico de Mário-Henrique Leiria, nascido em Lisboa, há 100 anos. Até à sua morte, em 1980, aos 57 anos, debilitado por diversas doenças agravadas pelo alcoolismo, teve uma vida aventurosa, com uma longa passagem pelo Brasil, onde ficção se mistura com realidade, ao ponto de hoje ser difícil perceber onde começa uma e acaba a outra. De espírito irrequieto, deixou uma obra dispersa em vários registos e várias artes.
Muito do que vemos agora no CAMB, a começar pelos seus desenhos de infância e adolescência em papéis soltos, esteve, na verdade, muito perto de ter ido parar ao lixo. Alertado para esse risco, Manuel de Brito, colecionador e fundador da Galeria 111, comprou todo o acervo da casa à família do artista, que pouco ou nada valorizava o seu espólio. Foi Maria Arlete Alves da Silva, viúva de Manuel de Brito, quem organizou esta pequena mas, ao mesmo tempo, tão vasta exposição. Saímos dela com a sensação de que Mário-Henrique Leiria podia ter sido muitas coisas além do que foi, investindo mais em cada caminho que trilhou: artista plástico flirtando com vários estilos, fotógrafo, encenador de teatro, colecionador, escritor, tradutor, cronista, até realizador de cinema (podem ver-se pequenos ensaios para um filme policial)… P.D.A. Centro de Arte Manuel de Brito > Campo Grande 113A, Lisboa > T. 21 936 9734 > até 27 mai, ter-sáb 10h-19h > grátis
7. Carla Filipe, Porto
In My Own Language I Am Independente (assim mesmo, com palavras em inglês e em português) é o título da primeira exposição antológica de Carla Filipe (n. 1973), que é também a primeira inauguração do ano no Museu de Serralves. Nas galerias, no mezanino da biblioteca e no terraço do restaurante, a artista portuguesa, natural de Vila Nova da Barquinha e a viver no Porto, mostra obras das últimas duas décadas, em que questiona a relação entre objetos de arte, cultura popular e ativismo.
Inspirada na comunidade de trabalhadores ferroviários onde cresceu, Carla Filipe apropria-se de sinais urbanos, grafítis e anúncios políticos de uma era pré-digital, para abordar “noções de território, trabalho, propriedade, memória, identidade e representação”. Esta é a primeira exposição no âmbito do protocolo assinado recentemente entre a Serralves e a Fundação EDP, que prevê iniciativas conjuntas, nomeadamente a apresentação de projetos da fundação portuense no MAAT e na Central Tejo, em Lisboa. F.A. Museu de Arte Contemporânea de Serralves > R. D. João de Castro, 210, Porto > T. 22 615 6500 > até 10 set, seg-sex 10h-19h, sáb-dom 10h-20h > €11
8. Ângela Ferreira, Braga
Com nacionalidade portuguesa e moçambicana, a artista plástica Ângela Ferreira, 65 anos, sempre se interessou pelo impacto do pós-colonialismo na sociedade contemporânea. A exposição Miriam Makeba: a pós-memória da luta pela Liberdade na obra de Ângela Ferreira, na Zet Gallery, em Braga, é uma homenagem da artista à cantora e ativista dos Direitos Humanos Miriam Makeba (1932-2008), ou Mama Africa como era conhecida, que lutou contra o Apartheid. Ao som do tema A Peace of Ground a rodar num gira-discos, observam-se cerca de 20 trabalhos de dois projetos: Dalaba: Sol d’Exit (2019) e A Spontaneous Tour of Some Monuments of African Architecture (2021), nos quais Ângela Ferreira criou peças escultóricas a partir do edifício redondo onde Makeba viveu exilada em Conacri. São a prova de que, salienta a curadora, Helena Mendes Pereira, “não obstante a condição de branca e privilegiada no país do Apartheid, a artista teve a capacidade de se insurgir e criar uma consciência crítica que traz essa dimensão ativista e de escrita da pós-memória para o seu trabalho”. F.A. Zet Gallery > R. do Raio, 175, Braga > T. 253 116 620 > até 27 mai, seg-sáb 14h-19h > grátis