O que têm em comum fotografias de miniaturas de planetas, areia vulcânica dos Açores, um cavalo preto, uma ecografia, uma rocha exposta no Museu de História Natural de Lisboa, um feto exposto no Museu da Anatomia de Basileia ou o gigante projetor do Planetário Calouste Gulbenkian? São, simultaneamente, pergunta e resposta ao mistério da existência humana, segundo a lente de Matilde Travassos.
Operada várias vezes ao coração ao longo da vida, a fotógrafa sempre viu a ciência como a sua religião, “a razão de ainda estar aqui”. E até estar à espera do primeiro filho, em 2019, “nunca tinha sequer colocado certas perguntas ou pensado se haveria mais alguma coisa”.
Porém, quando engravidou, Matilde sentiu a necessidade de perceber o que era isso do mistério da vida. “Não só por mim, mas para lhe poder contar quando ele nascesse”.
Ao longo de nove meses, fotografou objetos, animais, museus e parques naturais da Europa, empreendendo algo que poderia ser visto como uma grand tour da idade adulta. Mais do que belezas criadas pelo ser humano, analisou a relação entre matéria e espírito e procurou respostas, encontrando, muitas vezes, ainda mais perguntas.
As imagens, captadas através da lente de uma Hasselblad médio formato, e agora exibidas no Poolside Hub, em Alvalade, parecem quase pinturas. “Interessa-me muito esta relação com a pintura e o tempo que implica fotografar em analógico”, conta a fotógrafa que tem um passado, nas palavras da própria, “frenético”, no mundo da fotografia de moda.
“Em moda temos de ser muito rápidos a fazer tudo, desde fotografar a escolher as imagens e editá-las. Em 2018, decidi parar um ano e dedicar-me ao trabalho de autor e, através do negativo, consegui acalmar-me”.
Tal como terra em pousio, a coragem de abrandar deu frutos. Un Esprit Méthodique, com curadoria de Zé Ortigão e João Sarmento SJ, retrata de forma quase majestosa o silêncio com o qual o universo responde às perguntas das almas inquietas.
Afinal de onde vimos e para onde vamos? Porque razão viemos e porque é que temos de partir? Estaremos sozinhos? Conseguirá a ciência explicar a consciência? E o amor? Somos feitos de pó de estrelas, mas será que pertencemos ao infinito? O que é o infinito?
Na procura de repostas, Matilde Travassos acabou por captar imagens que, com uma beleza serena, levantam perguntas e convidam à contemplação.
Un Esprit Méthodique > Poolside Hub > R. Acácio Paiva 21A, Lisboa > até 6 abr, seg-sáb 16h-20h > grátis