Os Oscars já estão aí ao virar da esquina, que é como quem diz ao virar do ano, e chegam agora às salas filmes que ambicionam uma presença na mais mediática celebração do cinema. Amesterdão é, sem dúvida, um deles, embora se saiba de antemão que, mesmo que consiga algumas nomeações, dificilmente arrecadará as principais estatuetas.
O filme baseia-se em factos verídicos. No período entre guerras mundiais, um grupo (conhecido como o Comité dos Cinco) de poderosos empresários norte-americanos, admiradores da ascensão do nazismo na Alemanha, tentou fazer um golpe de Estado por motivações económicas e ideológicas, colocando um general-herói da I Guerra Mundial na presidência do país, com o objetivo de transformar os EUA numa ditadura. O golpe, aparentemente, nem chegou a estar próximo de vingar, mas estes movimentos conspirativos poderiam, sem dúvida, dar uma boa história.
David O. Russell faz de tudo isto um thriller e uma comédia ao mesmo tempo, ou seja: quem esperava um dia encontrar o O’Russell de The Fighter, Último Round (apesar de tudo, o seu melhor filme), vai descobrir algo mais próximo d’A Golpada Americana (comédia medíocre), isto sem qualquer preconceito em relação ao género.
Em Amesterdão, O’Russell cria caricaturas básicas, feitas de clichés, desprovidas de ligações à realidade, e quer que nós as levemos a sério. Em parte, o filme parece um French Dispatch de segunda, porque não é Wes Anderson quem quer, e O’Russell é frouxo na ousadia. Mas o maior problema talvez nem seja esse.
A narrativa engasga-se em analepses e prolepses, numa voz-off cansativa e por vezes desconexa que, mais do que ter graça, se quer mostrar engraçada. E há um constante tom explicativo, justificativo e repetitivo, que na prática representa uma visão do espectador como alguém com a inteligência adormecida ou que se pode ter distraído com o telemóvel.
De resto, o desfecho final, que obviamente não vamos revelar, nem sequer consegue criar efeito surpresa – o que para um filme deste género é fatal. Talvez o ponto mais interessante e pertinente de Amesterdão seja servir timidamente de alerta em relação às ambições golpistas de Donald Trump. E, se servir para isso, já serviu para alguma coisa.
Amesterdão > De David O. Russell, com Christian Bale, Margot Robbie, Robert De Niro, John David Washington