Sim, é um jardim de animais – assim o define António Viana, responsável pelo espaço cenográfico e museografia desta exposição no Museu da Marioneta, que alberga um conjunto de máscaras e de marionetas dedicado a figuras que, na antiga capela do edifício, aportam uma fisionomia de bicho que tem sempre um quê de humano, a não nos deixar esquecer de onde vimos e o que somos. É nesta organicidade de peças que reside a força de Animais. O poder é-lhe dado pelo ajuntamento.
Provenientes de várias partes do mundo, estas máscaras e marionetas – de vara, de luva, de fio, de sombra, orientais, africanas, sul-americanas, europeias – vieram quase todas das reservas do museu. Uma grande maioria pertence à Coleção Francisco Capelo. Entramos e logo somos abalroados pela imponência de um conjunto originário da Colômbia, caras enormes de um babuíno, um crocodilo, uma zebra, um tigre, ornadas com uma coroa de penas ostensiva, cheia de cores, como se fossem um chefe de uma tribo.
Os cruzamentos entre o mundano e o ascético, o demoníaco e o divino, o pavoroso e o festivo estão presentes em todos os conjuntos expositivos, que não se regem por critérios geográficos ou cronológicos, mas têm uma ligação com as peças da exposição permanente do museu, como é o caso da marioneta de água vietnamita aqui representada com um menino sentado no dorso de um búfalo. A tradição destes fantoches terá nascido no contexto da cultura do arroz, e é por isso que este teatro é apresentado dentro de água.
O culto do mito, o paganismo, é também uma presença nestas peças, como é disso exemplo uma marioneta de vara do Mali, feita em madeira, a representar uma girafa. Tem uns cornos azuis esguios e afiados, umas orelhas proeminentes, com riscas em rosa, um focinho laranja e um dorso vermelho e verde. Por fim, a joia da coroa, como é chamada. Trata-se de uma marioneta com mais de três metros de comprimento, a famosa Barong Ket, de Bali, Indonésia, que exige duas pessoas para manuseá-la (na cabeça e na cauda) e encarna o rei dos espíritos.
Animais > Museu da Marioneta > R. da Esperança, 146, Lisboa > T. 21 394 2810 > até 27 nov, ter-dom 10h-18h > €3