Casulos, sombras e máscaras vão ocupar toda a ala direita do Museu de Serralves e infiltrar-se nos jardins exteriores, que, a partir desta quinta, 21, mostram uma narrativa singular, concebida como uma viagem imersiva. O autor é Rui Chafes, escultor que escolheu o ferro para companheiro de trabalho, e a exposição, a maior já realizada pelo artista, revisita três décadas de criação. Chegar sem Partir, comissariada por Inês Grosso e Philippe Vergne, é pretexto para redescobrir os “momentos marcantes” do percurso de um nome maior da arte contemporânea portuguesa.
Sem se assumir como uma retrospetiva, a exposição mostra peças da fase inicial de criação do artista, assim como obras pensadas propositadamente para o museu e parque. “É uma proposta conceptual, diferente do que temos visto [de Rui chafes] nos últimos anos”, sublinha Inês Grosso, acrescentando que se revela ali um olhar sobre “a origem do pensamento escultórico” de Chafes. Recue-se ao final dos anos 80, às obras feitas de materiais banais e perecíveis, como por exemplo A Não Ser Que te Ame, instalação pouco conhecida, agora refeita e adaptada, iluminada por uma luz azul forte e apresentada numa espécie de cubo que nos “obriga a entrar e a viver o espaço”.
Ou foquemo-nos na experiência mística de Tranquila Ferida do Sim, Faca do Não, montada numa sala muito escura onde as esculturas, “quase majestosas”, apenas se revelam minutos depois de entrarmos. Com esta série de momentos, cria-se “uma cadência e um ritmo de instalações ambientais e sensoriais”, que “obrigam a uma relação muito física” com a obra de Chafes. Os desenhos, prática recorrente do artista, surgem, pela primeira vez, num diálogo próximo com as peças escultóricas.
Por último, refira-se Travessia, que, diz a curadora, é “um projeto maior, mais ambiental”. A obra, instalada no Passeio da Levada, desafia-nos a percorrer um trilho sinuoso, e escuro, até chegarmos a uma escultura de formas orgânicas, e integrará a coleção permanente dos jardins de Serralves. Intemporal, portanto, como a maioria das obras de Rui Chafes.
Museu de Serralves > R. Dom João de Castro, 210, Porto > T. 22 615 6500 > Até 15 jan, seg-sex 10h-19h, sáb-dom e feriados 10h-20h > €20