É verão e há poucas cores que rimem tão bem com a estação como o branco. Branco português, das casas caiadas, dos estendais repletos de lençóis, da cerâmica vidrada pronta a espelhar a luz de um país abençoado pelo Sol.
É o cenário que se move, para ver na galeria da Brotéria até dia 2 de julho, parece uma ode a este branco tão fresco e tão nacional. Mas o trabalho exposto fez-se a quatro mãos, duas delas alemãs. As obras de Luísa Jacinto partilham o espaço com o trabalho de Isa Melsheimer, enchendo, pela primeira vez, não só as paredes da galeria de arte, mas também as escadas e outras divisões do Palácio dos Marqueses de Tomar.
A exposição reflete sobre a identidade de um espaço. Melsheimer ficou fascinada como o pátio central do Bairro da Bouça, no Porto, desenhado por Álvaro Siza, que tanto servia de mero logradouro como se transformava num arraial de Santos Populares decorado com grinaldas, quando a vontade de fazer festa falava mais alto.

Do Porto a Lisboa, as grinaldas passaram de coloridos pedaços de papel a interpretações feitas em cerâmica com vários tons de branco, pela artista, na fábrica Viúva Lamego. Numa festa menos garrida, mas mais fresca, as peças atravessam a galeria de arte e sobem pelo corrimão da escadaria principal da Brotéria.
Se no caso de Melsheimer o cenário se moveu de Norte para Sul, no de Luísa Jacinto moveu-se de uma tela trabalhada ao longo de três anos para o resto da casa. As obras que a artista expõe no salão do primeiro andar foram realizadas sobre esta grande tela que a própria define como “o somatório involuntário de todas as pinturas”.
Sobre o tecido repousam de facto “fantasmas” dos pedaços de popelina que aí foram pintados para depois encontrarem a morada final num lugar mais alto. Ainda assim, é nesta tela que o olhar se prende involuntariamente, tentando desvendar a origem do que depois ganhou asas e se moveu.
É de contrastes que vive esta exposição, de panos leves pintados com cores profundas, de gazes quase transparentes emolduradas a aço e de peças de cerâmica densa pintada a branco e azul claro. Para compreender a verdadeira dimensão dos elementos expostos é preciso circular, ocupar o espaço, olhar de cima e de baixo, tal como, de resto, a Brotéria nos tem vindo já a habituar.
É o Cenário que se Move > Brotéria > R. São Pedro de Alcântara, 3 , Lisboa > até 2 jul, seg-sáb 10h-18h > grátis