Em última instância, é da escolha (mesmo que pouco consciente) das vítimas em se tornarem agressores e perpetuarem a hostilidade, contribuindo para a tornar sistémica, que trata este Taco a Taco, escrito pelos escoceses Kieran Hurley e Gary McNair e encenado por Pedro Carraca para os Artistas Unidos. Passamos o espetáculo todo a assistir ao percurso de vida, em paralelo, de dois adolescentes vítimas de bullying, em que o primeiro, Danny Guthrie, se limitou a trocar de lugar com o bully e o segundo, Max Brocklehurst, o protagonista, acaba por pôr a mão na consciência.
A peça começa com a música We Will Rock You, dos Queen, e Max (interpretado por Tiago Dinis) prepara-se para um duelo, que acontecerá dali a uma hora. Provocou Danny, o rapaz mais temido da escola, que tem fama de beber copos de cerveja para relaxar. Em palco, a casa de banho da escola foi transformada num ringue de wrestling, fruto da imaginação de Max e do seu melhor amigo, Stevie Nimmo (interpretado por Marco Mendonça).
“O medo está presente na peça toda, foi das coisas de que mais falámos. O medo é o que os motiva. E o som das badaladas, a assinalarem o tempo a passar e o duelo a aproximar-se, serve exatamente para lembrar as personagens de que já se estão a desviar para a vida, mas o medo existe”, explica Pedro Carraca. “E é, sobretudo, o medo deles em relação a outros.”
A conversa entre os dois estende-se várias vezes ao público, incitando-o a participar e a pôr igualmente a mão na consciência. Porque os que olham e não dizem nada, os que olham e acham que é apenas uma brincadeira sem mal, são igualmente responsáveis. “É verdade que sabemos que é uma brincadeira, mas também é verdade que sabemos que não é bem assim…”, complementa Pedro Carraca. Esse confronto com a plateia é, afinal, “uma forma de pôr o público a questionar-se”.
Taco a Taco > Teatro da Politécnica > R. da Escola Politécnica, 54, Lisboa > T. 21 391 6750 > 2 mar-2 abr, ter-sáb 19h > €10