1. O Esplendor, de Gérard Fromanger
No Museu Coleção Berardo, em Lisboa, até 29 de maio, a exposição de Gérard Fromanger (1939-2021) abre a temporada em Portugal. Conhecido pelo retrato de anónimos em cenas de rua de cores vibrantes, a sua obra “é a de um grande explorador do mundo que o rodeia, em permanente sintonia com a estética flâneuse de Walter Benjamin ou com as derivas de Guy Debord”, como descreve Éric Corne, o curador. A mostra reúne as 26 séries que marcaram o percurso do artista francês, num conjunto de mais de 60 quadros, em que se evidenciam “as dúvidas, ruturas, recomposições e técnicas diferentes” usadas por Fromanger, além de uma correspondência com “a sua biografia íntima, os seus encontros, a sua relação com a atualidade e, de modo mais amplo, com a História”. A par de pinturas, desenhos e serigrafias, será exibida a curta-metragem Film-tract n.º 1968 (Filme-Panfleto n.º 1968), de 1968, realizada com Jean-Luc Godard. O título da exposição refere-se não só às séries Splendeurs como também ao poema O Esplendor, de Álvaro de Campos, um dos heterónimos de Fernando Pessoa, do qual o artista era admirador. Museu Coleção Berardo, Lisboa > até 29 mai
2. Foco Phia Ménard
No Porto, a temporada cruzada começa com um ciclo dedicado a Phia Ménard, artista multidisciplinar, fundadora da companhia Non Nova, que dará a conhecer o seu trabalho singular, capaz de cruzar a dança com as artes visuais, o teatro e o circo contemporâneo e de abordar temas sociopolíticos contundentes da nossa sociedade, sem poupar ninguém. Ainda neste mês, no Teatro Municipal do Porto, haverá a estreia nacional de dois espetáculos: Saison Sèche, dias 18 e 19, em que a artista transexual abana o sistema patriarcal, convidando as bailarinas a se envolverem num processo de iniciação que conduzirá à criação de novos corpos e à destruição das paredes brancas, aparentemente imutáveis, do cenário; já em Contes Immoraux – Partie 1: Maison Mère, dias 25 e 26, uma enorme caixa de cartão evoca a reconstrução, no pós-II Guerra Mundial, promovida pelo Plano Marshall, remetendo para a fragilidade da Europa. Será ainda apresentado L’Après-midi d’un Foehn – Versão 1, no dia 23, uma criação para o público mais novo, feita com sacos de plástico, símbolo da pegada ecológica. O programa incluirá também um filme, uma masterclass e conversas. Teatro Municipal do Porto, Porto > 18-26 fev
3. Luz e Sombra, de Agnès Varda
A Casa do Cinema Manoel de Oliveira, no Porto, acolhe uma retrospetiva dedicada à artista de origem belga (1928-2019), radicada em França, precursora da nouvelle vague, que inclui não apenas a sua obra cinematográfica mas também a sua produção nas artes visuais: fotografia, sobretudo a que fez em Portugal nos anos 50 do século XX, colagem, videoarte e instalação, como as “cabanas” revestidas com película de filmes por si realizados. Entre os cineastas, a admiração era mútua. Recorde-se que no filme Agnès de ci de là Varda, uma crónica das viagens de Varda pelo mundo, um dos encontros que tem com várias personalidades é, precisamente, nos jardins de Serralves, com Manoel de Oliveira, que lhe fala de anjos da guarda e lhe mostra o seu andar à Charlot. Em diálogo com a exposição, haverá um ciclo de cinema com uma seleção de obras da realizadora. Paralelamente, na Villa Tamaris Centre d’Art, em França, decorrerá a exposição Manoel de Oliveira Fotógrafo, composta por 100 fotografias inéditas. Casa do Cinema Manoel de Oliveira, Porto > 21 jun-dez
4. Boris Charmatz
É um dos nomes mais influentes da atualidade no que diz respeito à dança contemporânea. O bailarino, coreógrafo e diretor do Terrain, recentemente escolhido para a direção artística do Tanztheater Wuppertal Pina Bausch, virá a Portugal em diferentes ocasiões. No Teatro Rivoli, no Porto, dias 26 e 27 de abril, Boris Charmatz apresentará Somnole, um solo interpretado pelo próprio, baseado em experiências pessoais, longe dos espetáculos excessivos que já trouxe àquele palco, com um grande número de bailarinos, como, por exemplo, em 10 000 Gestes. Em Lisboa, de 23 de junho a 2 de julho, o criador francês lança-se numa nova aventura, [terrain], literalmente instalada no terreno, ou seja nas ruas da capital, mais concretamente na Alameda D. Afonso Henriques. Além de contar com um elenco de bailarinos portugueses e franceses, o espetáculo estará aberto à participação de todos e abordará questões como a ecologia urbana, a democratização das artes e a participação ativa. “Um projeto de longo prazo, que procura concretizar, de várias formas e em diferentes locais, o conceito de uma instituição coreográfica sem paredes nem teto, no meio da malha urbana”, como é descrito pela Culturgest. Teatro Municipal Rivoli, Porto > 26-27 abr > Alameda D. Afonso Henriques, Lisboa > 23 jun-2 jul
5. Caroline Guiela Nguyen
A dramaturga, encenadora e realizadora francesa Caroline Guiela Nguyen e a sua companhia Les Hommes Approximatifs apresentam, em Lisboa, dois espetáculos aclamados pela crítica. Primeiramente, sobe ao palco do Teatro Nacional D. Maria II, dias 22 a 24 de abril, Saigão, com atores e atrizes de França e do Vietname, de todas as idades, profissionais e amadores, a contar uma história coletiva, “de dois mundos que se conheceram há 60 anos e que, desde então, se amaram, se destruíram e se esqueceram mutuamente”. O cenário é um restaurante, situado algures entre a França da atualidade e a Saigão na era da Indochina Francesa. Já no São Luiz Teatro Municipal, nos dias 26 e 27 abril, Fraternité, Conte Fantastique cruza a ficção com a realidade, criando em cena “uma espécie de tribunal de memórias e de lágrimas, um centro de cuidados e de consolação”. Um mundo em que os seres amados estão Ausentes e sobram apenas os Restantes, a lamber as feridas e a procurar ultrapassar uma dor sem fim. Uma oportunidade para conhecer o universo singular de Nguyen. Teatro Nacional D. Maria II, Lisboa > 22-24 abr > São Luiz Teatro Municipal, Lisboa > 26-27 abr
6. Europa Oxalá
A Fundação Calouste Gulbenkian recebe uma exposição com cerca de 60 obras (pintura, desenho, escultura, filme, fotografia, instalação) de 21 artistas, cujas origens familiares radicam nas antigas colónias africanas, nascidos e criados, portanto, num contexto pós-colonial. Marcam presença nomes incontornáveis da arte contemporânea europeia, como Aimé Mpane, Fayçal Baghriche, John K. Cobra, Katia Kameli, Malala Andrialavidrazana, Mohamed Bourouissa, Sabrina Belouaar, Mónica de Miranda, Francisco Vidal, Pauliana Valente Pimentel, Sammy Baloji, Sandra Mujinga e Pedro A.H. Paixão. Uma reflexão sobre as heranças, memórias e identidades. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa > 4 mar-22 ago
7. Os Irmãos Karamázov
O Teatro Nacional São João acolhe, dias 29 e 30 de abril, a adaptação do romance monumental e derradeiro de Dostoiévski conduzida por Sylvain Creuzevault, a partir de uma leitura inspirada em Heiner Müller e Jean Genet, segundo os quais esta obra é, acima de tudo, “uma farsa, uma bufaria enorme e mesquinha”. O encenador entrega-se, com um humor devastador, aos conflitos internos e às interrogações morais das personagens desta família disfuncional. Qual dos filhos matou o desprezível Fiódor Karamázov? Entre pistas e explicações confusas sobre atos e motivos, surgem as contradições. Teatro Nacional São João, Porto > 29-30 abr
8. Amadora BD
É inegável a influência da banda desenhada francófona no nosso país. Neste ano, o Festival Lyon BD, em junho, e o Festival Amadora BD, entre os meses de outubro e novembro, vão unir esforços e apresentar uma programação cruzada, com autores portugueses e franceses, muito diversificada, que contará com sessões de autógrafos, exposições, debates, encontros, performances, apresentações e concertos desenhados em torno da temática da igualdade e da diversidade cultural. Vários locais da Amadora > 1 out-30 nov
9. Sarah Maldoror: Cinema Tricontinental
Esta será a primeira retrospetiva dedicada à obra de Sarah Maldoror (1929-2020), pioneira do cinema africano e militante anticolonialista. Patente na Cordoaria Nacional, em Lisboa, a exposição destacará a obra cinematográfica mas também a teatral, a poética e a política de Maldoror (nome artístico e uma homenagem ao poeta franco-uruguaio Lautréamont, autor d’Os Cantos de Maldoror), que fundou Les Griots, a primeira companhia de atores africanos e caribenhos em Paris, esteve envolvida nas lutas de libertação dos países africanos de língua portuguesa (Angola e Guiné-Bissau) e manteve ligações com os poetas das Caraíbas francófonas (Césaire, Damas, Glissant). Cordoaria Nacional – Torreão Nascente, Lisboa > 8 set-13 nov
10. Ça Ira (1) Fin de Louis
Aclamada pelo público e pela crítica, a peça inspirada nos primeiros anos da Revolução Francesa, escrita e encenada por Joël Pommerat, conquistou três prémios Molière em 2016, os de melhor encenação, espetáculo e autor francês. Entre a ficção e a realidade, no espetáculo evita-se a reconstrução histórica e questionam-se as raízes da nossa cultura democrática. Teatro Nacional D. Maria II, Lisboa > 28-30 out