Há alguns anos, uma década talvez, que não se via uma coprodução desta dimensão entre duas das maiores forças vivas da cidade, o Teatro de Marionetas do Porto e o Teatro Nacional São João. O desafio lançado ao encenador Nuno M. Cardoso não era pequeno: partir de um texto contemporâneo para uma criação com as Marionetas. A escolha recaiu em O Julgamento de Ubu, texto em que o dramaturgo britânico Simon Stephens pega no “ditador megalomaníaco grotesco e amoral” Ubu (O Rei Ubu), de Alfred Jarry, estreado em 1896, para o pôr diante de um tribunal internacional do século XXI. Também Jarry, aliás, tinha imaginado o seu Ubu para marionetas, tendo escrito uma versão para o seu Théâtre des Phynances.
No palco do Carlos Alberto, cinco atores (Micaela Soares, Vítor Gomes, Shirley Resende, Joana Petiz e Bernardo Gavina) vão mostrar-nos um Ubu “numa versão muitíssimo atual e pertinente” dos ditadores contemporâneos, salienta Isabel Barros, diretora artística do Teatro de Marionetas do Porto. “Quando Stephens senta Ubu no banco dos réus – nesta encenação na carteira da escola, lugar primordial de formatação e de exercício do poder, e no banquinho do castigo, a primeira prisão de toda a liberdade e criatividade –, propõe-nos julgar os crimes contra a Humanidade que são perpetrados não por Ubu mas pelo exercício do poder e pela própria Humanidade, expondo a imoralidade da justiça”, escreve o encenador, Nuno M. Cardoso. Isabel Barros não tem dúvidas, pois, de que o público verá refletidos na peça os muitos Ubus que hoje nos rodeiam.
O Julgamento de Ubu > Teatro Carlos Alberto > R. das Oliveiras, 43, Porto > 22 340 1900 > 7-16 out, qua-sáb 19h, dom 16h > €10