1. Rapture, de Ai Weiwei, Cordoaria Nacional
Entre o real e o espiritual, a mitologia e a memória, as tecnologias e as técnicas centenárias, a mostra inédita em Portugal do artista chinês (agora a residir no Alentejo), permite uma panorâmica da sua obra contestatária e autobiográfica, contida entre os anos 1980 e a atualidade. Rapture apresenta trabalhos incontornáveis, como é o caso de Law of The Journey – Prototype B, essa gigantesca barcaça negra e espectral atulhada de refugiados, as fotogénicas figuras do zodíaco chinês aqui declinadas em vários materiais (lego, materiais preciosos…), a gigantesca Snake Ceiling a ondular no tecto, criada com mochilas para recordar os estudantes que morreram no sismo de Sichuan em 2008, ou o amontoado de dezenas de veículos das Bicicletas Forever. A estes, o curador Marcello Dantas juntou vídeos que narram as memórias e o percurso internacional do artista, ou as criaturas mitológicas criadas em seda e bambu, que se dependuram da gigantesca nave da Cordoaria, criando espetacularidade e maravilhamento – ilusórios?
É cá em baixo, ao nível do solo, que estão as peças suscetíveis de maior intimismo e violência – como a sucessão de dioramas de S.A.C.R.E.D.. Em nichos muralhados que exigem que se espreite, como se de um buraco de fechadura se tratasse, estas imagens evocam o tempo passado na prisão pelo sempre denominado “artista dissidente”. Contemplam-se efígies de Ai Weiwei, sempre ladeado por dois guardas chineses, a tomar as suas refeições, a ser vistoriado, a deslocar-se na cela minúscula… e o observador é transformado numa testemunha que nada pode fazer. Também fazendo o número de equilibrismo entre o homem e o ativista, está a escultura Brainless Figure in Cork – uma representação do próprio Ai Weiwei sentado, ausente, esculpido com parte do cérebro em falta. Uma espécie de falso trono em cor ocre, que, de certa maneira, lembra um monumento de lama, um deslizamento para o oblívio… Criada em cortiça, esta obra é uma das várias criadas já em território português, usando artesanato e matérias regionais como nunca as vimos antes: o gigantesco rolo de papel higiénico em mármore, a instalação têxtil em camadas, ou Odyssey, painel em azulejos assinados pela Viúva Lamego em que o drama dos refugiados, a ambiguidade da Europa e da repressão policial se apresentam em quadradinhos azuis e brancos… Cordoaria Nacional > Av. da Índia, Lisboa > T. 21 363 7635 > até 28 nov, seg-dom 10h30-19h30 > €13 a €15
2. Tudo O Que Eu Quero – Artistas Portuguesas de 1900 a 2020, Fundação Gulbenkian

Grande exposição celebratória com obras criadas por 40 mulheres portuguesas, Tudo O Que Eu Quero não quer ser um “salão feminino”, mas sim reparar injustiças históricas e sublinhar sucessos, cá e lá fora. Das 40 artistas portuguesas escolhidas para esta revisitação, apenas seis se afirmaram na primeira metade do século XX, o que “oferece uma imagem clara da desproporção” vivida, da invisibilidade face aos artistas homens. Havia leis e preconceitos, o “espartilho” da maternidade, os outros censuradores…Tudo O Que Eu Quero não é uma exposição exaustiva, mas tem a ambição de abordar narrativas de identidade, liberdade, poder, condição feminina e feminismo, e até temas emergentes: direitos cívicos, crise, ecologia, pós-colonialismo (de que é bom exemplo a artista Grada Kilomba). Uma exposição a não perder, até porque termina já na próxima segunda, dia 23 – e a entrada é grátis. Fundação Calouste Gulbenkian – Edifício Sede> Av. Berna 45A, Lisboa > T. 21 782 3628 > até 23 ago, qua-seg 10h-18h > grátis
3. 100 Anos Nadir, Biblioteca Nacional e no Centro Comercial Colombo

Associadas à celebração do centenário de nascimento do pintor, duas exposições em lugares diferentes evocam as suas cidades e paisagens, apresentando uma panorâmica abrangente dos vários períodos criativos de Nadir Afonso, e trabalhos inéditos. A Biblioteca Nacional acolhe uma versão condensada da exposição 100 Anos Nadir, que esteve patente no Porto: 115 trabalhos de várias escalas, entre obras e estudos, percorrem as mais de sete décadas de atividade do pintor, incluindo as pinturas Espacilimités, dominadas por fundos brancos em que formas curvas e convexas, ogivas e polígonos se espraiam. No âmbito da 11ª edição do programa A Arte Chegou ao Colombo, 100 Anos Nadir Afonso apresenta 40 obras, datadas entre 1947 e 2010: 20 pinturas, 14 guaches inéditos, nove esboços de arquitetura e ainda a maqueta do Museu Nadir Afonso, em Chaves, projetado por Siza Vieira. E, aqui, haverá uma experiência imersiva de videomapping aplicada a cinco pinturas do artista. Cidades visíveis para todos. Biblioteca Nacional de Portugal > Campo Grande, 83, Lisboa > T. 21 798 2168 > até 18 set, seg-sex 9h30-17h30, sáb 9h30-17h30 > grátis > Centro Comercial Colombo > Av. Lusíada, Lisboa > até 12 set, seg-dom 8h-22h30 > grátis
4. Histórias de um Império, Museu do Oriente
Percorram-se cerca de seis séculos, contemplem-se as 150 peças pertencentes à Coleção Távora Sequeira Pinto, agora patentes em Histórias de um Império. Acervo dedicado à “cultura material” resultante da Expansão Marítima portuguesa no Oriente, esta exposição evoca encontros, influências, aculturações (mais ou menos “diplomáticos”, mais ou menos musculados) entre portugueses e asiáticos, sob a forma de objetos preciosos. Abordando a “arte de colecionar”, evocando a tradição europeia dos Gabinetes de Curiosidades – as coleções de objetos e espécimes exóticos, precursoras dos museus –, aqui se revelam cofres de rendilhados delicados, caixas de laca ou madeiras exóticas, figuras adornadas de coral ou esculpidas em marfim (como um expressivo e paradoxal menino Jesus namban do século XVI), móveis contadores, biombos e oratórios, uma pedra de bezoar (pedras investidas de poderes curativos), cadeiras e custódias, olifantes e relicários, adagas e polvorinhos, um caquesseitão mitológico de que falou Fernão Mendes Pinto… Podemos já não olhar estes tesouros com inocência, mas o fascínio persiste. Museu do Oriente > Av. Brasília, Doca Alcântara Norte > T. 21 358 5200 > até 2 out, ter-qui 10h-18h, sex 10h-20h, sáb-dom 10h-18h > €6
5. Augusta Conchiglia nos Trilhos da Frente Leste, Museu do Aljube
A importância documental desta exposição é óbvia. Mas, ao percorrermos a sala do último andar do Museu do Aljube, somos obrigados a sublinhar também o valor estético destas imagens e uma energia do fotojornalismo no seu melhor. Aqui, podemos ver uma seleção de cerca de 50 fotografias (algumas expostas pela primeira vez), resultantes da viagem que Augusta Conchiglia, jornalista italiana então com 20 anos, e Stefano de Stefani, realizador nascido em 1929, fizeram nas “zonas libertadas” do Moxico, em Angola, em 1968. A dupla acompanhou de muito perto o quotidiano do MPLA e da população local na luta anticolonial por uma libertação que ainda tardava. O impacto da exposição aumenta quando, perante algumas fotos, usamos o QR Code disponível para, através dos telemóveis, aceder aos sons gravados por Conchiglia e De Stefani naqueles momentos assim imortalizados. P.D.A. Museu do Aljube > R. Augusto Rosa, 42, Lisboa > T. 21 581 8535 > até 31 dez, ter-dom 10h-18h > grátis
6. A Coleção Utópica – O Museu do Caramulo vem ao MNAA, Museu Nacional de Arte Antiga

Encerrado para obras, o Museu do Caramulo apresenta algumas das suas obras mais emblemáticas no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa. Ao primeiro quadro de Picasso exposto em Portugal, juntam-se trabalhos de Amadeo, Vieira da Silva, Eduardo Viana, a par de nomes mais antigos como Frei Carlos, Grão Vasco e Quentin Metsys. Para divulgar a pluralidade do acervo da instituição fundada por Abel de Lacerda, a mostra A Coleção Utópica apresenta ainda objetos de artes decorativas, porcelana chinesa, arte Namban e um Bugatti, este referente à coleção automóvel, única em Portugal. Museu Nacional de Arte Antiga > R. das Janelas Verdes, Lisboa > T. 21 391 2800 > até 26 set, ter-dom 10h-18h > €6, estudantes e maiores 65 anos €3, dom grátis
7. Oitavas da Oficina – José Aurélio: Joalharia, Sociedade Nacional de Belas-Artes
É uma relação amorosa e conceptual de longa data, a existente entre escultura e joalharia, que, em muitos casos, sublinha como grande diferença apenas o tamanho das obras. De esculturas criadas para dedos e lapelas, a joias expandidas no amplo white cube do museu, esta é uma história em que o gesto criador vinga mais do que rótulos facilitistas. Oitavas da Oficina – José Aurélio: Joalharia, título roubado a um poema de Vasco Graça Moura dedicado ao universo criativo do artista, apresenta 150 peças na Galeria Pintor Fernando de Azevedo – Sociedade Nacional de Belas-Artes (no âmbito da atividade fora de portas do MUDE – Museu do Design e da Moda). São criações feitas em matérias nobres e elementos quotidianos: ouro, prata, bronze, pedras semipreciosas, cerâmica esmaltada e vidrada, chumbo, coral, plástico, fio de algodão, ou “elementos preexistentes”, em que é manifesta a atitude experimentalista de José Aurélio. Aqui, dialogam com algumas esculturas para “mostrar as afinidades”. Sociedade Nacional de Belas-Artes > R. Barata Salgueiro, 36, Lisboa > T. 21 313 8510 > até 22 set, seg-sex 12h-19h, sáb 14h-19h > grátis
8. Íris, Centro Cultural Brotéria

À entrada, uma escultura composta por nove elipses luminosas desenha as órbitas de um hipotético planeta do sistema solar, numa “visão cósmica” das relações frágeis e complexas que existem entre os vários seres. Já uma pintura em forma de pentagrama devolve-nos o nosso reflexo, confrontando-nos com aquilo que somos: estranhos que vivem, ao mesmo tempo, dentro e fora da obra, mas que fazem sempre parte dela. Íris, exposição de Diogo Evangelista na galeria da Brotéria, é um convite à capacidade de nos maravilharmos, seja com um planeta imaginário ou com o nosso próprio reflexo, e de abrirmos as portas da alma ao que, sendo estanho ou diferente, surpreendentemente acaba na nossa órbita, atraído por alguma força gravitacional que connosco partilha. M.A.N. Brotéria > R. São Pedro de Alcântara, 3 , Lisboa > até 11 set, seg-sáb 10h-18h > grátis
9. Sanatorium, MAAT
O conceito da arte como catarse ou da obra mediadora de emoções é uma receita velha de séculos. Mas os tempos estão difíceis, a saúde mental está na ordem do dia, e valem todas as ideias cirúrgicas – como a de Sanatorium. Concebida há dez anos, reinterpretada no espaço do MAAT (Central Tejo) e ressignificada graças à pandemia, este projeto performático do mexicano Pedro Reyes poderia também definir-se, parafraseando o artista, como “brincadeiras sérias baseadas em jogos sérios”. Uma proposta já apresentada no Museu Guggenheim e na Documenta Kassel que leva o público a passar por “terapias” como a gestão da raiva, meditação, vacina contra violência, “goodoo” (em vez de vudu)… À VISÃO, a curadora Inês Grosso define-a assim: “É uma instalação participativa que proporciona um espaço de encontro, diálogo e partilha entre terapeutas e pacientes. As terapias são placebos, que, a partir de uma abordagem lúdico-recreativa, se espera que sejam transformadoras tanto do ponto de vista artístico, quanto pessoal e social.” Uma “experiência única e transformadora”. MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia > Av. Brasília, Lisboa > T. 21 002 8130 > até 20 set, seg, qua-qui 11h-19h, sex-sáb 11h-22h (até 31 ago) > €7,20 (Central + MAAT), maiores de 12 anos, estudandes e mais de 65 anos €4,80 (preços até 31 ago)
