Ele é um suicida que não pode suicidar-se. Assiste à infidelidade da mãe, confirma que o pai foi assassinado pelo tio e, por isso, tem de vingá-lo. É assim que Carlos Avilez resume o clássico que apelida de “Bíblia do teatro”: Hamlet, de William Shakespeare, dramaturgo que voltou a ser apresentado no Teatro Municipal Mirita Casimiro, casa do Teatro Experimental de Cascais, de que Avilez é diretor artístico. Nesta sexta e sábado, dias 28 e 29, sobe ao palco do Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada. Este Hamlet foi ensaiado maioritariamente online, e é também por isso uma peça sobre sobrevivência.
“Cá estou novamente com esta personagem; ensinei-a durante 20 anos e aprendi-a com os maiores mestres, inclusivamente com a equipa chefiada por um grande mestre que era o Fernando Moser [professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, especialista em cultura inglesa e Shakespeare]”, recorda-nos Carlos Avilez. “Acho que esta personagem me fascina tanto porque estou sempre à procura de mim próprio, do que sou; tenho sempre dúvidas e um prazer enorme de viver.”
O jovem ator José Condessa interpreta o príncipe da Dinamarca, que vê a mãe casar-se com o tio duas semanas após a morte do pai, que lhe aparece em espírito para revelar que foi assassinado pelo tio e pedir vingança. Perante uma crise interior crescente – ser ou não ser, fazer ou não fazer –, o jovem Hamlet simula loucura para levar avante os seus intentos. Deixamos de perceber se esse desvario é fingido ou real, mas o certo é que toda a gente acaba morta, incluindo a sua amada Ofélia. “Esta peça é mais do que a tragédia e vingança; ela marca o problema da existência, do ser humano, da juventude”, diz Avilez. “Os rapazes já foram todos Hamlets e as raparigas, todas Ofélias. Há sempre este susto, este medo do que pode acontecer e do que pode não acontecer.”
Hamlet > Teatro Municipal Joaquim Benite > Av. Professor Egas Moniz, Almada > T. 21 273 9360 > 28-29 mai, sex-sáb 19h > €13