É sob o tema “A Cidade do Depois” que começa nesta sexta, 20, a sétima edição do Porto/Post/Doc, prolongando-se até dia 29. Devido à pandemia, o festival estará dividido entre sessões em sala, no Teatro Rivoli e no Cinema Passos Manuel (com extensões ao Planetário do Porto, à Casa Comum da Reitoria da Universidade do Porto e à Escola das Artes da Universidade Católica), e o digital, com a exibição de grande parte da programação numa plataforma VoD (online.portopostdoc.com), disponível até 13 de dezembro (passe €12).
O festival continua a explorar as fronteiras entre documentário e ficção. Serão mais de 60 filmes para ver “a realidade com mais poesia, mais política, mais intervenção e, acima de tudo, histórias de pessoas”, refere Dario Oliveira. Para o diretor do Porto/Post/Doc, este é um programa que traça olhares sobre questões sociais e políticas de todo o mundo. São histórias reais que nos levam do Bairro do Aleixo, no Porto, à fronteira entre o Brasil e o Uruguai, de relatos de migrações e êxodo rural à vida quotidiana dos palestinianos, sob ocupação israelita.
A organização do Porto/Post/Doc lembra que “os cinemas são lugares seguros”. “Ir ao cinema é um ato de participação cívica, é marcar presença no que é a cultura viva de uma cidade como o Porto”, defende Dario Oliveira. Eis sete filmes a não perder.
1.David Byrne’s American Utopia, de Spike Lee
O documentário de Spike Lee, David Byrne’s American Utopia, em volta do último disco e uma série de concertos do líder da banda Talking Heads, é o grande destaque da sétima edição do Porto/Post/Doc. Sem transmissão online, a estreia do filme ficará reservada à sala do Rivoli. Atento ao mundo, David Byrne surpreende com a versão de um espetáculo da Broadway, à qual soma ritmo e ideias. Em palco, descalço e sem adereços, apoiado por uma banda de onze elementos, Byrne transforma “a música num antídoto para as atuais divisões da América.” O cantor juntou-se ao realizador Spike Lee para transformar o concerto num filme inspirador, de união e luta contra a injustiça, para celebrar a vida. Teatro Municipal Rivoli > Pç. D. João I, Porto > T. 22 339 2200 > 20 nov, sex 19h, 27 nov, sex 14h30
2. MLK/FBI, de Sam Pollard
Também na secção Highligts, MLK/FBI, de Sam Pollard, apresentado em estreia nacional, é outro dos destaques desta edição do festival. A partir de ficheiros secretos, recentemente tornados públicos, o cineasta expõe pormenores da apertada vigilância e do assédio de J. Edgar Hoover, diretor do FBI, a Martin Luther King, um dos maiores heróis da luta contra o racismo nos EUA. No filme, Sam Pollard examina as razões que levaram o FBI a investigar Luther King, confrontando-as com a forma como este é celebrado na atualidade. Teatro Municipal Rivoli > Pç. D. João I, Porto > T. 22 339 2200 > 27 nov, sex 19h
3. A Nossa Terra, O Nosso Altar, de André Guiomar
Na principal secção do festival, a competição internacional, viaja-se através de paisagens sociais e políticas contemporâneas. A primeira longa-metragem de André Guiomar, A Nossa Terra, O Nosso Altar, terá estreia nacional no Porto/Post/Doc. Um documentário que testemunha os últimos anos do Bairro do Aleixo, no Porto, e mostra a vida tal como ela é, as derradeiras rotinas dos seus habitantes, marcadas pela tristeza e lamento face ao destino imposto à comunidade. O processo de demolição arrastou-se durante anos, fez desaparecer o passado, e obrigou os moradores a seguir em frente. Teatro Municipal Rivoli > Pç. D. João I, Porto > T. 22 339 2200 > 23 nov, seg 20h30
4. Partida, de Caco Ciocler
Entre o documentário e a ficção, o filme Partida, de Caco Ciocler, ator e cineasta brasileiro, acompanha a viagem ao Uruguai de um grupo invulgar. Com ele, segue uma atriz, apoiante de esquerda e candidata à presidência do Brasil, e um empresário de direita. O objetivo é conhecer Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai e grande inspiração dos viajantes, mas não faltam questões de âmbito mundial a dividi-los. Teatro Municipal Rivoli > Pç. D. João I, Porto > T. 22 339 2200 > 25 nov, qua 20h30
5. American Rapstar, de Justin Staple
Dedicado a documentários sobre música e movimentos culturais, o programa Transmission ganha nesta edição um carácter competitivo. Entre os cinco filmes selecionados, o destaque vai para American Rapstar, de Justin Staple, que aborda o fenómeno das estrelas de hip hop da plataforma de streaming SoundCloud. Trata-se de uma nova cena musical, envolvendo “jovens rappers de estilo extravagante e colorido, rimas sonolentas e batidas nebulosas.” Uma história recente, de uma nova geração de artistas como Lil Peep, Smokepurpp e Bhad Bhabie, que arrastam multidões e chocam o mundo com tatuagens faciais, abuso de medicamentos e energia rebelde. Cinema Passos Manuel > R. Passos Manuel, 137, Porto > T. 22 205 8351 > 25 nov, qua 20h15
6. Autoluminiscent: Rowland S. Howard, de Lynn-Maree Milburn e Richard Lowenstein
Estreado em 2011, o filme percorre a vida do compositor e guitarrista Rowland S. Howard (1959-2009), antigo companheiro de banda de Nick Cave, conhecido pela personalidade camaleónica e com uma curta carreira a solo. Através de entrevistas recentes, outras de arquivo e imagens originais, o documentário vai além de um relato revelador da história da música australiana, lançando alguma luz sobre o mistério que envolvia Rowland, uma figura invulgar na cena pós-punk de Melbourne. Cinema Passos Manuel > R. Passos Manuel, 137, Porto > T. 22 205 8351 > 27 nov, sex 18h
7. A Invenção do Amor, de António Campos
Em diálogo com o Fórum do Real – encontro internacional integrado no festival, criado para pensar e discutir o cinema contemporâneo -, haverá uma dezena de filmes que abordam algumas questões ligadas à cidade. Entre eles, está a curta-metragem A Invenção do Amor, realizada por António Campos, autor independente, mais ligado ao documentário etnográfico e ao cinema antropológico. Neste filme de ficção, realizado em 1965 e restaurado pela Cinemateca Portuguesa, a narrativa centra-se num casal perseguido pela polícia e pelos habitantes da cidade, por ter inventado o amor. Inspirado no poema homónimo de Daniel Filipe, poeta cabo-verdiano, A Invenção do Amor é entendido como “um filme político, surrealista e metafórico sobre o Estado Novo.” Uma oportunidade rara de projeção em sala. Teatro Municipal Rivoli > Pç. D. João I, Porto > T. 22 339 2200 > 27 nov, sex 17h
Porto/Post/Doc > Teatro Municipal do Porto – Rivoli, Cinema Passos Manuel, Planetário do Porto, Escola das Artes-UCP e Casa Comum – Reitoria da Universidade do Porto > 20-29 nov > €2 a €5, passe €50, passe online €12 > www.portopostdoc.com