Em dezembro de 2019, a exposição Estás Aqui: Vinte Anos de Artes Performativas em Serralves, assinalava o 30º aniversário da Fundação e o 20º do Museu de Arte Contemporânea. Um olhar para o passado que evidenciava o papel fundamental dos cruzamentos disciplinares na história de Serralves, especialmente entre as artes visuais, a performance, a dança e a música. O título da mostra, sublinham Cristina Grande, Pedro Rocha e Ricardo Nicolau, os programadores, “era em si mesmo um manifesto, um programa, o reconhecimento do mínimo denominador comum para que as artes performativas possam acontecer: Estás aqui. (…) A pandemia que todos estamos a viver afetou com particular violência aqueles artistas cujo trabalho vive da simultaneidade da sua presença com o público. Isto é o mesmo que dizer que O Museu como Performance se viu confrontado com desafios inéditos que interrogaram os seus limites e possibilidades”.
Este contexto extraordinário marca a sexta edição, mas a partilha do espaço e do tempo característico destas propostas artísticas continua a ser possível, acompanhada da reflexão sobre “como pode uma crise simultaneamente inopinada e anunciada, servir para pensarmos, reagirmos e mesmo ensaiarmos possibilidades de mudança”.

O programa, assinalam, “propõe várias vias de ressonância da complexidade da realidade, nomeadamente uma desaceleração que permita um questionamento sobre a confusão e o excesso dos tempos que vivemos”. A solução passou por apresentar muitas performances duracionais, que permitem ao público uma circulação maior entre os espaços e, ao mesmo tempo, desafiam a resistência física dos artistas.
É o caso, por exemplo, das performances Relay, de Ula Sickle, a agitar uma bandeira negra no hall do museu; Levantar o Mundo, de Gustavo Sumpta, no ténis do Parque de Serralves, que toma como ponto de partida a frase de Arquimedes: “Dai-me um ponto de apoio e levantarei o mundo”; Auto-retrato, de José Alberto Gomes e João Dias (no auditório), a ocupar um espaço indefinido entre a instalação e a performance; Breach I e II, de Máiréad Delaney (no hall do museu); Pin Dor Ama Primeira Lição, de Dori Nigro e Paulo Pinto (na biblioteca); ou Burn Time, de André Uerba (no auditório), uma performance e instalação efémera na fronteira entre escultura e arquitetura. Em todas estas propostas o público pode entrar, sair e regressar em qualquer momento. Algo que lhes permite “experimentar várias modalidades de atenção, em projetos que nos fazem refletir sobre o equilíbrio instável em que muitas das nossas convicções sobre a arte, sobre a vida e sobre a relação entre as duas estão baseadas”, apontam os programadores.

O Museu de Serralves proporciona diferentes ocupações artísticas, como acontece em Scores for the Body, the Building and the Soul, for Serralves Museum of Contemporary Art, com David Helbich a propor um conjunto de mapas de partituras de performance concebidos especialmente para o edifício, para serem executados pelos membros do público. A Casa do Cinema Manoel de Oliveira concentra a maioria das criações que incluem vídeo, como Some Performances, de Sara Manente, Ondine Cloez e Michiel Reynaert, Ibi clausus thesis, de Vanda Madureira e Spectacle #4, de Sara Manente e Christophe Albertijn, um cruzamento entre filme, documentário, ficção e ensaio. Mais um exemplo de como os encontros disciplinares são, neste programa, uma constante.
O Museu como Performance > Fundação de Serralves, R. D. João de Castro, 210, Porto > T. 22 615 6584 > 12-13 set, sáb-dom 10h-20h > €10