O cenário é despojado, os figurinos discretos. São os atores que fazem a peça. O fundo do palco é composto por arcas empilhadas, sinónimo de acumulação e fortuna; em cima, um candelabro, alusivo ao Palais Royal, em Paris, teatro onde se estreou As Artimanhas de Scapin. Escrita por Molière em 1671, dois anos antes de morrer, esta sátira burlesca vai à commedia dell’arte buscar, segundo palavras de João Mota, o “elogio da sobrevivência.”
“Esta peça é uma crítica muito grande, muito grande, a esta sociedade toda”, defende João Mota. “Essa gente toda que vive do dinheiro para o dinheiro, do jogo para o jogo, da aldradice para a aldrabice, só para ganhar… Essa coisa do poder. Por isso é que digo que hoje não há ideologias, há uma: a ideologia capitalista.” E o amor é, para o encenador e diretor artístico do Teatro da Comuna, a força transcendental por excelência com capacidade combativa. “Há uma cena de amor que é linda. Faz lembrar Don Juan, O Misantropo… De vez em quando vem essa poesia, esse lado romântico, que Molière tem em quase todas as peças.”
As Artimanhas de Scapin tem estreia marcada para 17 de setembro no Teatro da Comuna, em Lisboa.
O espetáculo começa ao som de Pavarotti a cantar Santa Lucia, porque a história se passa em Nápoles. Octávio e Leandro são filhos de dois mercadores abastados, Argante e Gerôncio. Tiveram o desaforo de se apaixonarem por mulheres de condição social inferior à sua e vão pedir ajuda a Scapin, criado com uma vida feita de artimanhas. “Nós vivemos numa altura em que, sem amor, é impossível. O amor é que nos dá alegria. E a alegria e o amor dão-nos uma coisa importantíssima: a liberdade”, explica João Mota. “É esse amor que nos transcende. Ou somos exemplos ou não há democracia, é uma mentira.” Outra relação de amor, de mestre e aprendiz, é a de Scapin com outro servo, Silvestre. “É uma coisa de que gosto muito, da psicopedagogia e expressões artísticas. Peguei nesse lado, que Molière não explora: Silvestre vai ser outro Scapin.”
As Artimanhas de Scapin > Fórum Municipal Romeu Correia > Pç. da Liberdade, Almada > T. 21 273 9360 > 16-19 jul, qui-sex 21h30, sáb 18h, dom 15h, 21h30 > €10