“Uma ode à impermanência da dança.” É desta forma que Boris Charmatz descreve 10000 Gestes, uma cadeia frenética de gestos condenados à extinção. A ideia disruptiva do espetáculo – incluído no projeto Museu da Dança, com passagens pelo MoMA, em Nova Iorque (2013), e pela Tate Modern, em Londres (2015) – surgiu quando o coreógrafo assistia à apresentação de uma das suas peças.E se, em vez de uma sequência de movimentos repetitivos, optasse por uma criação com dez mil gestos únicos? Dividindo esse número pelos 25 bailarinos presentes, chegamos a 400 gestos para cada um, todos diferentes, e teremos a noção do caos visual com que o público se depara, hipnotizado por este quadro singular, ao som do Requiem de Mozart.
Um desafio gigantesco para os intérpretes, obrigados a inventar, durante uma hora, uma coreografia que depende dos seus corpos, memória e criatividade para evoluir (sem imitar o parceiro do lado e tendo como única premissa um tema dado pelo coreógrafo). Entre gestos minimais e grandiosos, divide-se a atenção da plateia, que nunca conseguirá abarcar a totalidade da explosão de movimentos. Poderia dizer-se que esta peça (de 2017) é um objeto impossível de musealizar, sem hipótese de preservação no acervo do tal “antimuseu coreográfico”, criado por Boris Charmatz, quando assumiu a direção do Centre Chorégraphique National de Rennes et de Bretagne, entre 2009 e 2018. Uma sublimação da natureza profundamente efémera da dança, com qualquer coisa de melancólico.
Neste sábado, 15, Boris Charmatz participará numa conversa pós-espetáculo no Rivoli. Dará também um workshop destinado a profissionais e alunos de artes performativas.
10000 Gestes > Teatro Municipal Rivoli > Pç. D. João I, Porto > T. 22 339 2201 > 15-16 fev, sáb 19h, dom 17h > €12 > Culturgest > R. Arco do Cego, 77, Lisboa > T. 21 790 5155 > 21-22 fev, sex 21h, sáb 19h > €18