Obras de Paula Rego há muito invisíveis? Paula Rego: Anos 80 é uma oportunidade imperdível. Uma exposição que opera um certo ressuscitamento, na medida em que permite criar uma nova visão sobre a obra da pintora portuguesa, que tem estado “escondida” em coleções particulares, suscitando novas leituras e revelando inspirações e “saltos”, numa carreira com muitas décadas.
É, por exemplo, o caso das óperas clássicas compostas por Puccini, Verdi ou Bizet, que Paula Rego explorou na série As Óperas (1983): enormes telas com intrincadas histórias, povoadas por muitas personagens, num estilo que rompia com a sua anterior produção pictórica, ou das denominadas Vivian Girls encontradas na obra de Henry Darger (1892-1973), um artista autodidata norte-americano, que viveu num lar de doentes mentais e que trabalhou como empregado de limpeza em hospitais, criador da obra com mais de 15 mil páginas e centenas de aguarelas e desenhos, intitulada The Story of the Vivian Girls, in What is Known as the Realms of the Unreal, of the Glandeco-Angelinian War Storm, Caused by the Child Slave Rebellion. Em 1984, a pintora apropria-se destas personagens ficcionais à sua maneira “como agents provocateurs, capazes de provocar o caos numa amoralidade total”, diz a curadora Catarina Alfaro.
Há, aqui, outras evocações como a do teórico brutalista Jean Dubufett (a quem Paula dedica duas pinturas-homenagem em 1985) ou a das fábulas de La Fontaine, ilustradas por Gustave Doré (pressentidas no bestiário ambíguo e simbólico que a artista começa então a explorar na sua produção), a que se acrescentam memórias biográficas como a doença do marido, Victor Willing (sublimadas na série Menina e Cão). Esta década de 1980, defende a curadora, regista grandes mudanças pessoais e artísticas na vida de Paula Rego, que induzem “um sentimento de liberdade em relação às expectativas impostas quanto ao modo de “fazer arte”. E a artista descobre uma nova linguagem visual, marcada pelas emoções.
Paula Rego: Anos 80 > Casa das Histórias Paula Rego > Av. da República, 300, Cascais > T. 21 482 6970 > até 26 mai, ter-dom 10h-18h > €5