Há um espelho no chão, sobre o qual os atores se deitam para representarem algumas cenas desta Alice no País das Maravilhas, adaptada por Ricardo Neves-Neves. O espelho projeta as cenas na parede mas é também, por vezes, içado, erguendo-se no fundo do palco. Este foi o aparato cénico que a dupla de encenadores Neves-Neves e Maria João Luís encontrou para traduzir a ideia de base do clássico de Lewis Carroll: a de replicação de perspetivas sobre uma mesma coisa, e a relação disso com o tempo.
Cada espectador tem uma visão própria do que está a ver. “Em termos simbólicos, o espelho é de uma grande riqueza: a Alice que se observa, a mudança da idade, a minha transformação, a observação de mim próprio, o modo como os outros me veem…”, explica Ricardo Neves-Neves. O relógio marca sempre as cinco da tarde, a hora do chá. “Estamos sempre atrasados, sempre. A Humanidade luta contra o tempo, desde sempre”, acrescenta Maria João Luís. “No fundo, o grande problema é o compromisso. A sensação constante de que não se vai conseguir cumprir…”
Alice no País das Maravilhas > Teatro Nacional São João, Pç. da Batalha, Porto > T. 22 340 1910 > 30 jan-10 Fev, qua-sáb 19h, qui-sex 21h, dom 16h > €7,50 a €16