
Os interiores rústicos, de luz crua, refletem a convivência direta e afetiva na intimidade da casa
Georges Dussaud
À 8ª edição, o Plast&cine regressa a Bragança para homenagear Georges Dussaud, 84 anos, o fotógrafo francês que relatou como poucos o quotidiano de Trás-os-Montes. Agora é a vez da cidade (re)visitar esse passado e olhar para o que aí vem. Depois de Júlio Pomar, Graça Morais e Souto de Moura, homenageados nas edições anteriores, convocam-se todas as pessoas para um regresso à década de 80, a um universo intacto e autêntico, ainda a viver à margem do progresso, que Georges Dussaud conheceu “por mero acaso”, mas nunca mais deixou de visitar. Ano após ano. “No âmbito da homenagem reunimos um conjunto de obras significativas dessa época, de um mundo quase perdido e intacto onde a loucura do progresso não tinha chegado”, diz Jorge da Costa, o curador de A Norte do Norte – Trás-os-Montes na década de 1980, a exposição que se pode ver no Centro de Fotografia Georges Dussaud, em Bragança, até final do ano.
A preto e branco, o fotógrafo capta assim esse mundo à parte, onde se vive ainda à margem das mudanças, que por esta altura já aconteciam nos grandes centros urbanos, do litoral do País. Nas suas imagens cabem as pessoas e o modo de vida, os rostos, o dia a dia, as tradições. “Muito já desapareceu, acabou por se render ao progresso, mas as fotografias são documentos artísticos e históricos de rituais religiosos, de trabalhos no campo, do cozer do pão”, continua o curador. Por outro lado, neste conjunto de mais de cem fotografias, encontram-se aquelas que, diz Jorge da Costa, são consideradas “as imagens mais emblemáticas da carreira do fotógrafo”.

A figura humana é sempre a protagonista nestes retratos do fotógrafo francês
Georges Dussaud
A geografia humana é protagonista, mesmo quando, na ausência de um corpo, este se imagina modelado em vestígios encontrados na paisagem. Dussaud está sempre comprometido com a afetividade e a empatia, seja com os lugares ou os rostos que fotografa. “Ele não esteve cá de passagem, criou uma relação com as pessoas, de intimidade, de contacto direto”. frisa Jorge da Costa, acrescentando que sabe mesmo o nome de cada um dos fotografados. “Dussaud não veio à procura do exótico, dai esta ser uma relação de grande dignidade, que transforma estes anónimos quase em heróis da região”, frisa.
Todos os anos, desde a descoberta de Trás-os-Montes, na década de 80, que Georges Dussaud continua a ir aos sítios, a deambular pelas aldeias trasmontanas e a estabelecer contacto com as pessoas. Nas suas fotografias, muitas, diz o curador, feitas por acaso, observa-se o pulsar da região, da vida no campo, da terra e da natureza. “Ele é alguém que chega de fora e nos ensina a reparar nas coisas, transformando estes legados banais em acontecimentos extraordinários”, remata.

Nas suas muitas viagens pelas aldeias transmontanas, Georges Dussaud demonstra uma forte sintonia com a região, seja em festas ou na dureza do trabalho do campo
Georges Dussaud
Além da exposição A Norte do Norte – Trás-os-Montes na década de 1980, o Plast&Cine, uma iniciativa a que se associam o comércio, as instituições sociais e as escolas, envolvendo mais de 200 pessoas, organizada pela Câmara Municipal de Bragança e Editorial Novembro – Edições Cão Menor, tem programadas conversas e arte pública espalhada por nove equipamentos da cidade e na rua.
Depois de inaugurada a exposição, nesta sexta, dia 19, no Auditório Paulo Quintela, o jornalista Pedro Mesquita vai orientar a conversa com os fotojornalistas Adriano Miranda, Lucília Monteiro (fotojornalista da VISÃO) e Violeta Santos Moura. No sábado, dia 20, há uma conferência de Georges Dussaud, às 16 horas. Além de fotografias de grande formato, a preto e branco, espalhadas por diversas artérias do centro histórico da cidade, também as montras estão decoradas a rigor.
Plast&cine > Auditório Paulo Quintela > R. Abílio Beça, 77, Bragança > T. 273 324 092 > 19-20 out, sex-sáb
A Norte do Norte – Trás-os-Montes na década de 1980 > Centro de Fotografia Georges Dussaud > R. Abílio Beça, 77, Bragança > T. 273 324 092 > 19 out-31 dez, ter-dom 9h-12h30, 14h-17h30