Um amigo escrevia há dias no Facebook sobre amor fati, uma expressão em latim que significa amor ao destino. Esta aceitação da vida e do destino, mesmo nos seus aspetos mais cruéis e dolorosos, é uma capacidade que está apenas à altura de um espírito superior, ou seja: dos deuses. Ao homem, esse ser imperfeito e mundano, cabe-lhe a busca incansável por se desviar desse amor fati, conferindo, assim, sentido ao papel dos deuses. E é tão simplesmente sobre essa premissa existencialista que reside a essência – e a beleza – do género noir. Podemos ter o mundo contra nós, mas caminhamos. É um dos filmes da minha vida.
Exibido no Espaço Nimas, nesta sexta-feira, 10, mas também nos dias 14 e 19, Fim de Semana no Ascensor conta a história de uma mulher e de um homem que lutam pelo seu amor até às últimas consequências. Os ingredientes que tornam este filme tão especial são três: a forma como Louis Malle, de câmara à mão e a intercalar planos gerais com grandes planos, filmou uma mulher a andar pelas ruas de Paris à chuva; a atriz escolhida para desempenhar esse papel, Jeanne Moreau, que consegue fazer transparecer no rosto toda a complexidade da determinação, inamovível pelo desespero; e o lamento do trompete de Miles Davis – chuva sonora que cai sobre a cara de Moreau –, convidado por Malle para fazer a banda sonora do filme.
Outra cena marcante de Fim de Semana no Ascensor, que encontra, na história dos amantes a levarem a cabo o homicídio do marido dela, a metáfora para a ideia de liberdade, é a dos grandes planos da cara de ambos a falarem ao telefone: “- Amo-te, amo-te. – Se não ouço a tua voz, fico perdido num país de silêncio.” Como diz o excerto de um poema do padre e poeta José Tolentino Mendonça: “Por isso vos digo/ não deixeis o vosso grande amor/ refém dos mal-entendidos/ do mundo”. As personagens de Jeanne Moreau e de Maurice Ronet sabiam disso.
Organizado pela Leopardo Filmes, o ciclo integra filmes, alguns inéditos nas salas portuguesas, em cópia restaurada. Até 3 de outubro, exibem-se obras emblemáticas de Jacques Becker, Sacha Guitry, Robert Bresson ou Marcel Pagnol.
Cinema Francês – Os Grandes Mestres 1930-1960 > Espaço Nimas > Av. 5 de Outubro, 42, Lisboa > T. 21 357 4362 > 10, 14 e 19 agosto, sex, ter e dom 13h45, 15h45, 17h45, 19h45, 21h45 > €6