Pouco depois da emergência do movimento ativista Black Lives Matter, Martine Syms (nascida em 1988) começou, em 2014, uma singular produção sobre as representações da negritude, relacionando-as com a linguagem, as narrativas (dominantes…), as tradições raciais ou as vivências das minorias. O resultado foi um puzzle visual, um arquivo in progress, que poderia reclamar tanto a herança da MTV como a erupção das redes sociais, bem como o predomínio de plataformas como o YouTube. Lessons I – CLXXX apresenta-se como uma obra constituída por vídeos de trinta segundos, um “poema cumulativo”, desconexo e fragmentário, com cenas e figuras retiradas de vídeos do referido YouTube, de programas de televisão dos anos 1980, de filmagens do arquivo pessoal da artista criadas para parecerem algo respigado…
Num aparente eco das narrativas escolhidas pelas empresas para os usuários, um algoritmo é também aqui responsável pela passagem ao ecrã destas associações não lineares. Cartoons e figuras icónicas, cenas quotidianas, reuniões familiares ou poemas são representações da negritude que induzem à reflexão. Ou, como definiu a artista, uma “espécie de meditação expandida sobre as tradições da herança cultural e social”, ou “um livro de autoajuda”. A obra total soma 180 vídeos, e cada um é baseado num texto existente. À Studio International, Martine contou que os primeiros cinco clips foram retirados de The Grey Album: On the Blackness of Blackenes3s (Graywolf Press, 2012), livro em que o poeta Kevin Young aborda cinco lições. “São ainda um manifesto para mim e, após fazer as primeiras cinco, percebi que havia muitas mais.” O museu é a sua sala de aula.
Lessons I – CLXXX > Museu de Arte Contemporânea de Serralves > R. Dom João de Castro, 210, Porto > T. 22 615 6500 > 14 jun-9 set, seg-sex 10h-19h, sáb-dom 10h-20h > €10